Sector alimentar é um dos mais vulneráveis ao risco

José Barqueiro, diretor Willis Towers Watson Portugal

Segundo as últimas projeções da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), a indústria agroalimentar portuguesa deverá ultrapassar, em 2019, os 17 mil milhões de euros em volume de negócios, dos quais cinco mil milhões são fruto das exportações, representando 19% do total da indústria transformadora. Esta indústria é composta por um universo de mais de 11 mil empresas e responsável por cerca de 115 mil postos de trabalho diretos e 500 mil indiretos.

É, portanto, quase escusado dizer que o peso do sector alimentar na economia do nosso país é de grande importância. Mas também o são os riscos, presentes ou futuros, que esta indústria tem que enfrentar e para cuja administração a grande maioria das empresas do sector não possui dimensão ou recursos suficientes, o que pode atacar diretamente a viabilidade futura dos seus negócios.

Com efeito, o sector alimentar está em transformação contínua e rápida e é um dos mais vulneráveis aos riscos e incertezas que precisam de ser enfrentados ao longo dos próximos anos. Aspetos como a sustentabilidade, rastreabilidade, saúde ou internacionalização são elementos-chave de melhoria e investimento para o seu crescimento a médio/longo prazo.

O desafio, em grande parte, é criar produtos cada vez mais sustentáveis, com menos consumo de recursos e mais seguros. E fazê-lo num contexto global em que a internacionalização é fundamental e a mudança nos hábitos de consumo é contínua, acelerada e, em muitos casos, difícil de prever, o que dificulta muito a capacidade de se adaptar e responder à procuras se não se possuírem as ferramentas e a estratégia certas.

Isto exige das empresas do sector alimentar um investimento importante em inovação que, como tal, deve ser considerada um risco e que, além disso, se ramifica em diversas áreas, como produção, distribuição, logística, cibersegurança, etc., todas elas também com os seus próprios riscos. Riscos que devem ser medidos, mitigados e geridos para não se perder competitividade

As empresas privadas fora do sector e a Administração Pública também devem colaborar. As primeiras com soluções, consultoria e inovação que permitam ao sector alimentar gerir os seus riscos. A segunda, simplificando o ambiente administrativo e burocrático para a criação de empresas e promovendo um ambiente fiscal que atraia e favoreça o investimento nesse sector, entre outras iniciativas.

Segurança alimentar, uma área fundamental

De acordo com os dados da Willis Towers Watson, 67% dos produtos defeituosos na indústria alimentar são alimentos contaminados por germes patogénicos que se reproduzem e geram toxinas; 21% são danificados durante o transporte, distribuição ou armazenamento; 8% foram expostos a agentes físicos ou químicos inadequados durante a produção industrial e a produção primária e os 4% restantes dizem respeito a produtos não seguros devido a sabotagem, problemas internos (falha na proteção da fábrica) ou externos. Falamos sobre segurança a vários níveis: saúde, fraude alimentar, cibersegurança, conformidade com regulamentos nacionais e internacionais, etc., que tornam necessário implementar um Plano de Segurança Alimentar.

De um modo geral, os recursos necessários para implementar este plano devem abordar três áreas principais: produto, processo e distribuição. Deve haver um controlo permanente e exaustivo desde a entrada da matéria-prima na fábrica até à saída do produto processado. Nenhum esforço ou recurso pode ser poupado na manutenção preditiva/preventiva de máquinas e na formação e qualificação adequada dos recursos humanos, nem se pode negligenciar os processos de limpeza e desinfeção permanentes. E, é claro, devemos sempre contar com empresas de logística e transporte qualificadas e comprovadas que garantam que a qualidade do produto não é alterada após a saída da fábrica e que chegue ao mercado em perfeitas condições.

Os benefícios de ter um plano de segurança alimentar bem estruturado são relevantes: reforça a confiança do consumidor, facilita a remoção do lote/produtos afetados, se necessário, limitando as unidades a serem removidas e o seu impacto económico, ajuda a proteger a imagem da marca e evita gerar possíveis problemas de saúde pública – uma prioridade -, mas também possíveis sanções criminais, civis e administrativas. É essencial que as empresas do sector sejam capazes de enfrentar os desafios, presentes e futuros, em termos de segurança dos produtos alimentares comercializados.

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