Preço do porco está a sofrer grande pressão pela falta de consumo interno

preço do porco
Pedro Matos, consultor

Vejamos a cotação de porco vivo em Lérida (quadro abaixo):1,39€/kg (-0,04€/kg vs 16/4/2020 e -0,10€/kg vs 26/3/2020). Num mês, o valor indicativo baixou 7% e, na última semana, uma queda de 3%. Tal como tenho vindo a falar, o preço do porco está a sofrer grande pressão pela falta de consumo interno nos diversos países.

Preço do porco está a sofrer grande pressão

A restrição de circulação de pessoas, o confinamento, os lay-offs, a falta de coragem dos Estados em criarem medidas radicais de apoio ao emprego e às empresas, etc. fazem o consumo (e a produção) cair drasticamente. As pessoas não vão trabalhar e fecham os matadouros e as fábricas. Também o encerramento dos restaurantes, cantinas, snacks, centros comerciais, etc. leva a uma diminuição do consumo fora de casa e já todos sabemos que, com as novas medidas de abertura para a restauração, o número de estabelecimentos irá reduzir-se em, pelo menos, 30 a 40%. E o consumo muito mais, seguramente. Dados da União Europeia apontam para uma diminuição de 0,7kg-1kg per capita por ano. É muita carne!

O mais preocupante é que o fenómeno é global e terá implicações futuras no modus operandi do comércio, não só da carne de porco mas de todas as “commodities” alimentares. As empresas terão que se reinventar.

Mas não são só as empresas. São também todos os operadores da cadeia de “supply chain” e distribuição. Cada vez vai ser mais difícil chegar ao consumidor diretamente, porque também este terá que se adaptar. E será muito mais seletivo no que compra, valorizando o essencial versus o supérfluo. Quantas vezes comprávamos o que não precisávamos?

Tudo vai ser diferente! Assim, a Covid-19 o obriga.

 

Evolução das cotações

Apenas para informação, vejam abaixo o comportamento das restantes principais bolsas de suíno:

Preço do porco está a sofrer grande pressão

Praticamente todas as cotações baixam. Inclusive na China, onde o aumento de efetivo (ainda que ligeiro) e da disponibilidade de produto (via desbloqueio dos contentores nos portos) aliviam um pouco os preços.

A União Europeia corrobora a USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América) no relatório que resumi no meu último artigo. Segundo o estudo realizado e divulgado pela União Europeia a 20 de abril, está previsto um ligeiro aumento da produção em 2020 versus 2019.

Em 2020, a produção de carne de porco da União Europeia deverá aumentar ligeiramente, pois a contínua procura da China, que mantém os preços altos e favorece maiores pesos de abate, assim o obriga. E o impacto do Covid-19 na produção dos Estados Unidos da América não pode ser descurado. São públicas as notícias do encerramento temporário de grandes unidades de abate do outro lado do Atlântico.

O crescimento será impulsionado pela Espanha que consegue certificar mais e mais empresas para exportar para a China. Relembro que as exportações de carne de porco de Espanha para a China dobraram em 2019. Em 2020, Espanha será o principal produtor da União Europeia em número de animais abatidos. Tudo isto vem colocar mais pressão sobre o mercado português.

Diz ainda o relatório que a Covid-19 não deve afetar significativamente o mercado de carne de porco, exceto em alguns produtos de restauração específicos. Não posso discordar mais!

Todas estas alterações são devidas, em primeiro instância, à peste suína africana (PSA) na Ásia (localmente), mas à Covid-19 e ao novo mundo que gerou (globalmente)! E esperemos que a PSA não chegue à Europa (está às portas da Alemanha).

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