O mercado Fast Moving Consumer Goods (FMCG) registou um início de ano menos positivo, com um decréscimo de cerca de 4,5% em volume e de 0,5% em valor, no primeiro trimestre, números que demonstram que os portugueses estão a comprar menos quantidade e a gastar menos a cada ida ao hipermercado.
Contudo, essa tendência é de alguma forma compensada com incremento do consumo fora de casa. Estas são algumas das principais conclusões da quarta edição do estudo “Marcas+Consumidores”, da Centromarca, apresentado esta quarta-feira, dia 28 de junho, na sede da L’Oréal, em Miraflores. “É curioso registar, num início de ano marcado por valores pouco positivos no sector da alimentação, que a ‘fat tax’ acaba por ter um impacto menor nos hábitos dos portugueses”, explica Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca.
O universo FMCG foi essencialmente penalizado, em volume, pelas categorias de alimentação (-6%), alimentação animal (-5,3%) e bebidas (0%), face ao mesmo período do ano anterior. Também em volume, a categoria de higiene do lar, que em 2016 se apresentava a crescer (+1,2%), voltou a cair em 2017 (-2,5%). Em queda está também a higiene pessoal (-3,1%).
Dentro da alimentação, os frescos mantêm-se como o maior investimento dos lares portugueses, seguidos pelos produtos lácteos, mercearia doce e mercearia salgada. Só o sector das refeições prontas registou um crescimento (+3,4%) em 2017 face ao ano anterior. “Num contexto de um país com sinais crescentes de envelhecimento, com menos pessoas por lar e mais lares sem crianças, o número de ocasiões de compra por lar e de ocasiões de compra por dia diminuiu ligeiramente face a 2016. Que, por sua vez, já vinha de um decréscimo face a 2015”, acrescenta Pedro Pimentel.
Numa análise mais direcionada para o mercado da beleza, foi possível verificar que as compras de higiene pessoal e beleza quebraram (-3,1%) nos primeiros meses de 2017. Foi notória uma redução global do número anual de lançamentos de novos produtos, sendo que os cremes de rosto e os produtos de make-up receberam o foco maior de atenção dos “shoppers”.
Blandine Meyer, diretora comercial da Kantar Worldpanel Portugal, parceira da Centromarca neste estudo, refere que “o shopper procura cada vez mais uma compra sofisticada e especializada, enquanto para os retalhistas – sejam mass-market, sejam do canal especializado – a atratividade é fundamental para crescer”. Pedro Pimentel realça que “é notório o esforço de vários retalhistas no alargamento de portfólio e na intensificação de campanhas de comunicação das suas próprias marcas no segmento de ‘beauty’”.
Os dados agora divulgados revelam ainda que as marcas de distribuidor voltaram a recuperar terreno face às marcas de fabricante, embora ambas tenham perdido face a 2016. No primeiro trimestre, as vendas em volume das marcas de distribuidor voltaram a rondar metade do mercado (49%), embora tal parcela corresponda a uma percentagem substancialmente inferior quando analisadas as vendas em valor. Pedro Pimentel considera ser “preocupante registar a sua evolução, que coloca as marcas de fabricante em dificuldade”. Já Blandine Meyer salienta que “as marcas de fabricante estão em dificuldade também porque a compra está a perder intensidade e porque a pressão promocional não cessa de aumentar, mas as promoções já não produzem o efeito desejado”.
Jorge Velosa, professor da NovaSBE e owner manager da Skipper Management, foi a personalidade convidada para comentar mais esta edição do “Marcas+Consumidores”. No seu entender, “este início de ano apresenta alguns sinais contraditórios. Alguma euforia que se observa no consumo não tem correspondência no comportamento das compras FMCG dos lares portugueses, fazendo perceber o forte impacto que o turismo está a ter no retalho. Por outro lado, a redinamização das marcas de distribuidor parece estar para durar, até como fator crítico na forte competição entre as principais insígnias da moderna distribuição”.