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Portugueses alteram rotina de compras

Os portugueses manifestam estar muito preocupados com a atual situação provocada pelo novo coronavírus. Dados compilados pela Kantar para a Centromarca mostram que 81% dos inquiridos alteraram os seus hábitos diários e o seu comportamento no que respeita ao consumo, em resposta ao momento que Portugal e o mundo atravessam.

Algumas das principais alterações identificadas nas rotinas das famílias portuguesas foram o ato de lavar mais vezes as mãos (83%), a redução do consumo fora de casa (77%) e a menor utilização de transportes públicos (62%). “Nas quatro semanas que se seguiram à confirmação dos primeiros casos de Covid-19 em Portugal, foi notória a alteração na forma como os portugueses realizaram as suas compras. Neste curto espaço de tempo, passaram de compradores com rotinas de elevada ‘consistência’ para compradores com reações de ‘contingência’”, explica Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca.

A Kantar agrupa estas súbitas mudanças no padrão de compra em três momentos de reação dos portugueses que resultaram em três padrões de compra distintos.

 

Semana de confirmação dos primeiros casos

No dia seguinte à confirmação dos primeiros casos de Covid-19, 3 de março, verificou-se a maior afluência às lojas em 2020 (até à data), com uma presença de compradores 51% acima da média diária verificada durante este ano. “Um cenário bastante atípico, em especial por se tratar de um dia de semana, deixando bem marcada a preocupação dos portugueses face à ameaça do vírus”, sublinha Pedro Pimentel.

Desde essa data até ao final dessa semana, apesar de se ter verificado um aumento natural na compra de produtos alimentares, o principal objetivo dos portugueses foi adquirir produtos de higienização, tanto para o lar como para o cuidado pessoal. Registou-se um número de produtos comprados 23% e 22%, respetivamente, acima da média semanal verificada até ao final do mês de fevereiro.

No geral, do dia 3 (terça-feira) ao dia 8 de março (domingo), foi registado um aumento no número total de produtos comprados para os lares na ordem dos 19%.

 

Semana em que foi declarado como pandemia

Apesar do pico atípico de afluência verificado no dia 3 de março, foi na segunda semana do mês que se verificaram as mudanças mais consistentes na compra e que maior impacto tiveram no panorama dos Fast Moving Consumer Goods (FMCG) em Portugal, mais precisamente a partir do dia 11 de março, quando o Covid-19 foi declarado pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De 11 a 14 de março, dia anterior à declaração das restrições no acesso e na afetação aos estabelecimentos, verificou-se uma nova ‘onda’ de deslocações às lojas. Neste período, a afluência de compradores esteve 24% acima da média diária de 2020. “Com um maior número de recomendações para a permanência em casa, os portugueses aumentaram consideravelmente o tamanho da cesta por compra, sendo que, desta vez, o alvo principal foram os produtos de limpeza, mas também a procura pelo armazenamento alimentar, tendo sido registado um aumento do número de produtos comprados 49% e 37%, respetivamente, acima da média ‘pré-Covid-19’”, adianta Marta Santos, Manufacturers Sector Director da Kantar.

Neste espaço de tempo, a quantidade diária de produtos comprados esteve 45% acima da média anual, representando, assim, o grande momento de “stockagem” das famílias portuguesas.

 

Declaração do estado de emergência

A partir de 15 de março, quando o acesso às lojas foi restringido, ao mesmo tempo que a afluência às lojas ia diminuindo, o tamanho das cestas aumentava na mesma proporção. Porém, nesta época, deixaram de ser batidos recordes de compras e sentia-se o prenúncio da esperada retração, após a intensa procura verificada nas duas semanas anteriores.

A partir de 19 de março, o dia seguinte à decretação do estado de emergência em Portugal, a afluência às lojas diminuiu drasticamente para os valores mais baixos de 2020 até à data, tendo mesmo chegado, no domingo, dia 22 de março, ao nível de compradores mais baixo do ano: 42% abaixo da média diária do ano. Mas com uma grande diferença, o tamanho de cada cesta nesta data atingiu níveis máximos. Mesmo assim foi inevitável a quebra abrupta das compras de FMCG.

No geral, na terceira semana após a confirmação dos primeiros casos, o saldo total de produtos comprados ficou na média, face ao período pré-Covid-19, porém numa tendência clara de decrescimento que se poderá agravar nas próximas semanas, até se encontrar um novo equilíbrio no padrão de compra. “Além de todas as conclusões, conseguimos retirar também informação sobre a ‘cesta de sobrevivência’ dos portugueses, sobre os produtos que foram priorizados neste momento de crise, quando não existiu tempo para um planeamento de compras. Quando comparadas as cestas de compra pré e pós-Covid-19, nas duas primeiras semanas, a aquisição de produtos frescos – fruta, verduras e carne – foi altamente prioritária”, refere Marta Santos.

Porém, a menor capacidade de reposição face à procura fez com que nem todos os lares tenham tido o mesmo nível de acesso a estes produtos: no global destas três semanas, a compra de produtos frescos ficou na média face ao período anterior à crise.

De forma mais consistente, surgiu a procura de produtos básicos e de longa duração, destacando-se como principais as leguminosas, em especial grão e feijão, as farinhas, o peixe e os legumes de conserva, massas, e, num segundo plano, arroz, azeite, vinagre, sal, açúcar, bolachas e produtos congelados, desde salgados, verduras a carne e peixe.

Percebe-se também a importância dos produtos básicos de limpeza e higiene, sobretudo luvas domésticas/descartáveis, detergentes para roupa, lixívia e produtos de papel no geral, não só o papel higiénico, mas também lenços, rolos de cozinha e guardanapos. Sabonetes e fraldas foram as grandes prioridades na área da higiene pessoal.

 

Antecipar futuro a curto-prazo

Perante uma situação de crise súbita, a palavra planeamento provoca em todos os envolvidos um sentimento misto: o da necessidade e o de imprevisibilidade.

Algumas questões que devem ser acompanhadas no sector de FMCG serão o desenvolvimento que ocorrerá no canal online, a persistência de uma maior procura por proximidade, a evolução das compras de armazenamento ou o aumento da procura de alimentos considerados como contendo características “imunitárias”.

Pedro Pimentel salienta que estes são números das primeiras quatro semanas e o que se tem verificado é que a afluência tem diminuído, o que provavelmente continuará a acontecer com o prolongar deste período de confinamento. “Vamos continuar a olhar atentamente para os dados que nos chegam e analisar ao detalhe o comportamento dos consumidores portugueses e o impacto que estão a ter no sector”.

 

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