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Mintel revela as macrotendências no universo da beleza e cuidados pessoais nos próximos 10 anos

A relação entre a marca e o consumidor está a mudar e oscila entre duas variáveis: informação e emoção. Isto representa um grande desafio para as empresas, pois serão os próprios clientes a ditar aos fabricantes o que querem e como querem recebê-lo.

A empresa de consultoria Mintel investigou o comportamento do consumidor e definiu duas tendências claras para os próximos 10 anos, como refere no seu relatório “Tendências Globais de Beleza e Cuidados Pessoais 2030”. Por um lado, o binómio natureza e ciência, no qual cada um depende do outro, e, por outro, a conexão e desconexão.

A primeira tendência refere como os avanços em software, hardware, inteligência artificial ou realidade aumentada estão a anunciar a quarta revolução industrial, na qual os consumidores escolhem, compram e interagem com os produtos de beleza e cuidados pessoais.

Por exemplo, olhando para 2030, Mintel fala sobre como a tendência vegan está a evoluir para a biotecnologia, uma vez que muitos ingredientes estão a ser “cultivados” em laboratórios. Daí a importância da biologia “hack”, através da qual os biólogos se tornam em projetistas e engenheiros, passando da observação e estudo da biosfera para modificá-la para os nossos próprios interesses.

Nesse sentido, “o olhar para o envelhecimento da população pode criar novos padrões sobre o que significa envelhecer, deixando de se falar sobre envelhecimento, mas sim de longevidade“, explica. “À medida que a expectativa de vida melhora, o crescimento da indústria de cosmética e beleza irá acelerar“, acrescenta.

Por outro lado, há o aspeto de integrar a Internet das Coisas para medir e obter dados que indicam os comportamentos e estilos de vida dos consumidores. “A biometria oferece uma maneira inovadora para as empresas interagirem mais pessoalmente com os consumidores e oferecerem produtos mais personalizados. No entanto, as marcas precisam de estar preparadas para uma possível reação do consumidor se sentirem que os seus dados estão a ser usados ​​incorretamente”.

Quanto à inclinação para produtos naturais, o relatório fala sobre como os consumidores confiam mais nos seus instintos e conhecimentos e como o papel do especialista começa a ser questionado. A confiança na marca está em risco, se esta não for transparente quanto aos seus ingredientes e métodos de preparação, uma vez que o consumidor investiga mais do que nunca ao escolher um produto. Daí a importância de liderar com transparência e ética, fatores que estarão acima do próprio marketing.

Na construção de cenários futuros, a Mintel fala sobre como a indústria de cosmética e cuidados pessoais está a usar a tecnologia de neuromarketing e a emoção como uma nova ferramenta para medir o potencial sucesso de um produto e definir o seu preço antes do lançamento. Por exemplo, a marca japonesa Shiseido descobriu que, por espectroscopia, é possível conhecer a correlação entre a resposta do fluxo sanguíneo cerebral e o juízo de valor do consumidor durante a aplicação de cosméticos e a sua disposição de pagar por isso.

Sob a “umbrela” dessa grande tendência da ciência da natureza, algumas iniciativas já estão a ocorrer. A empresa francesa Spinali Design criou roupas de banho com um sensor UV integrado que lança alertas para o telefone do utilizador para indicar quando os níveis de UV estão altos e precisa de mais proteção solar. Outra empresa, a japonesa Spiber, participou junto com a corporação Aderans no desenvolvimento de cabelos artificiais, feitos de proteínas, podendo ser permanentes e coloridos.

Conexão-desconexão

Com a tecnologia 5G e a realidade mista, o mundo torna-se menor ao permitir conectar aqueles locais atualmente desconectados. Embora a tecnologia ofereça isto, muitos consumidores também decidem “desligar” para encontrar mais conexões com o mundo real. Pois, “o consumidor está a perder a capacidade de interagir entre si, ao nível humano, devido às conexões digitais“, explica Mintel no relatório, onde também fala do perigo e dos efeitos nocivos do acesso a uma quantidade tão grande de informações, “duvidando-se do conceito de autenticidade“.

Seguindo essa tendência, a Mintel incentiva o sector a criar produtos e serviços com base em vários aspetos: aproveitar os dados biométricos, por exemplo, para avaliar as preferências do consumidor e usar a psicografia para entender melhor o cliente, simplificar os cuidados com a pele, com soluções que reduzem as rotinas dos consumidores, superar limitações geográficas ou a importância e influência do espaço em que os ingredientes são criados.

Enquanto o consumidor alterna essa conexão e desconexão, também procura a sua “tribo” e a sua “cultura de culto” e as marcas de beleza e cuidados pessoais serão um veículo para alcançá-las. Isto significa que as empresas vão querer saber quais são os estilos de vida com os quais os consumidores se alinham, sendo que estes, por sua vez, não querem perder a sua identidade no processo. “Querem flexibilidade quando se trata de escolher o que funciona com eles, definindo, assim, a sua cultura individual de culto“. Por exemplo, a marca Fluff Casual Cosmetics tem como alvo a Geração Z com uma nova maneira de entender a beleza, além da maquilhagem.

A figura do “influencer” será transformada, pois a Mintel fala de que se está a produzir uma mudança de mentalidade e que haverá uma fratura com esses prescritores nas redes sociais, já que o consumidor “está cansado de se sentir ‘vendido’ e a responsabilidade voltará para a marca, que será quem mostra e garante a compra nos seus websites”.

Outra mudança de mentalidade que Mintel aponta é a da cultura de reciclagem e reutilização. “Os consumidores estão a adotar abordagens mais mínimas, fazendo compras de produtos com maior qualidade e alto desempenho“. Nesse sentido, a empresa que vende perfume por assinatura Scentbird analisou as suas fragrâncias mais vendidas e descobriu que havia 13 notas específicas que homens e mulheres escolheram. Daí a ideia de formular quatro fragrâncias unissexo com essas notas.

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