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Logística de frio mobilizada pelos bens alimentares refrigerados

O consumo de frutas e legumes na União Europeia registou um crescimento de 1,6%, segundo um estudo da Freshfel Europe, com os cidadãos a consumirem, em média, 353 gramas (192 gramas de frutas e 161 gramas de vegetais) por dia. Uma tendência que tem levado a indústria do armazenamento e transporte de frio a adaptar-se e a expandir o “just in time” para toda a cadeia de abastecimento, particularmente no que diz respeito a produtos perecíveis. Além do desejo por um stock cada vez menor, os operadores de logística têm também que contornar obstáculos como a deslocalização da produção agrícola e a contra-sazonalidade do consumo.

Com este reconquistar dos consumidores por parte das frutas e legumes, é aos operadores de logística a quem fica a função de oferecer soluções adaptadas à cadeia alimentar moderna: stocks que se querem cada vez mais pequenos e em menor quantidade, produtos com ciclos de validade mais curtos, eliminação de todas as fontes de desperdício e otimização das rotas. “Vivemos em tempos em que ‘just in time’, que sempre teve elevada importância nos produtos ultra perecíveis, em especial os refrigerados, se generalizou em toda a cadeia de abastecimento, independente da sua tipologia, temperatura, etc.”, explica Vitor Figueiredo, general manager da Greenyard Portugal. “Trata-se efetivamente de um desafio para as empresas e para os operadores logísticos, mas que não representa grande problema para operadores cuja génese é a logística de produtos perecíveis, como é o nosso caso, já que sempre trabalharam desta maneira”.

A logística de produtos perecíveis enfrenta, contudo, um outro desafio: o comércio de proximidade. O facto de se trabalhar, presentemente, com mais entregas regulares obriga a um melhor método de gestão dos recursos disponíveis, sejam eles espaço físico, transporte ou recursos humanos. “As lojas vocacionadas para este tipo de comércio são, normalmente, espaços comerciais de pequena dimensão, situados em locais com forte densidade populacional e que necessitam de entregas muito frequentes, por vezes, mais que uma vez por dia. Para além disso, trata-se de espaços cujo sortido é composto por um número muito limitado de SKU’s de altíssima rotação. Desta forma, em termos de distribuição, terão necessariamente de se utilizar viaturas de menor dimensão que permitam não só o acesso às lojas, mas também a realização de um número maior de entregas por dia, já que o ‘drop size’ é necessariamente inferior ao de uma loja convencional. Por outro lado, o perfil de preparação de encomendas para este tipo de lojas é totalmente diferente do que se pratica em lojas de maior dimensão, sendo que o ‘picking’ à peça assume uma proporção muito maior, em detrimento do ‘picking’ à caixa. O mesmo se passa com o comércio online. Este tipo de venda acontece por conveniência do consumidor, pelo que qualquer atraso ou erro logístico resultará necessariamente em ruturas e, consequentemente, perdas definitivas de vendas”.

Produtos perecíveis
As categorias mais representativas no total de volume são a carne e o pescado. No entanto, frutas e verduras, lacticínios e charcutaria são categorias com alta representação neste mercado. “Nos últimos anos, temos vindo a assistir ao aumento de volume de outros sectores, em especial padaria e pastelaria congelada. De uma maneira geral, ainda são os bens alimentares refrigerados que apresentam a maior fatia do volume movimentado, ainda que sejam os congelados que têm apresentado maiores taxas de crescimento”, comenta o responsável da Greenyard Portugal.

A crescente ânsia por hábitos de vida saudáveis tem vindo, efetivamente, a resultar num aumento do consumo de produtos perecíveis, em especial de origem vegetal. Além disso, também resultou numa maior procura por super alimentos, de origens diversas, que tradicionalmente não estão incluídos na dieta mediterrânica. “Os principais desafios logísticos destas alterações estão normalmente associados não só ao aumento de fluxos de produtos com validade reduzida, mas também a um aumento de SKU’s disponíveis cujas tendências de consumo ainda não estão estabilizadas”.

Além do crescente aumento de consumo dos produtos frescos, considerados mais saudáveis, uma outra tendência tem vindo a alterar os padrões de consumo dos produtos alimentares perecíveis. A maior dinamização na comercialização de frescos e perecíveis, através do constante clima de promoção e de folheto, assim como um aumento das marcas da distribuição levou, inevitavelmente, a uma maior volatilidade de consumos. “Isso faz com que operadores produtores ou comercializadores tenham dificuldade em ajustar a sua estrutura às variações de consumo. Esta dificuldade é maior em estruturas de temperatura controlada, quer pelo investimento que representam, quer pelos elevados custos fixos de manutenção e funcionamento. Desta forma, tem vindo a aumentar a tendência para o outsourcing logístico. De qualquer modo, apesar do aumento recente, os níveis de outsourcing logístico em Portugal ainda estão aquém dos verificados no resto da Europa”, observa Vitor Figueiredo.

Outsourcing
Os serviços de logística de frio em Portugal continuam a estar concentrados num reduzido número de operadores logísticos. Um mercado com concorrência, onde regem parâmetros de qualidade muito elevados ao nível dos mercados desenvolvidos e onde o outsourcing ganha lugar. Afinal, novas exigências em “timings” e volumes instáveis confrontam as empresas, levando-as a considerar até que ponto vale a pena sustentar uma frota própria. “Do lado da procura, a logística em Portugal é um sector em desenvolvimento e com um universo de mercado em tendência crescente. A maturidade do mercado e a crescente venda em cenário de promoção têm vindo a fazer com que cada vez haja não só uma maior preocupação com a eficiência e eficácia dos fluxos logísticos, mas também uma consciencialização de que os volumes são cada vez mais instáveis. Esse cenário beneficia o recurso a um modelo de outsourcing da logística, já que permite variar custos que, de outra forma, seriam fixos”.

Este fator tem maior relevância num sector onde o peso da infraestrutura é maior, como é o caso da logística de frio. Nos últimos anos, especialmente devido à crise económica que se viveu, a consciencialização para as vantagens de recorrer ao outsourcing logístico aumentou significativamente. “É normalmente em períodos de dificuldade económica que se tendem a tomar decisões com vista a alcançar um maior grau de eficiência”, garante Vitor Figueiredo.

Este artigo foi publicado na edição 45 da Grande Consumo.

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