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Contexto geopolítico faz antever dificuldades em toda a cadeia de valor

gs1 portugal

O sector da indústria, que ainda fazia contas aos prejuízos dos últimos dois anos, enfrenta agora um contexto único de incerteza e que deixa antever dificuldades acrescidas a todos os pilares das cadeias de valor. Esta foi a principal conclusão do painel debate do evento O Regresso da Indústria, promovido pela GS1 Portugal, no passado dia 24 de março, em que especialistas e decisores do sector foram unânimes quanto a uma inevitável escalada de preços dos produtos, fruto da crise energética e dos obstáculos nas cadeias de abastecimento. “Incerteza” e (novamente) “resiliência” serão as palavras de ordem para este ano no sector.

Raúl Magalhães, presidente da APLOG, antevê três principais impactos na indústria. “a crise energética, que trará pressão na produção das matérias-primas, levando a uma inevitável escalada de preços” e, por fim, “as consequências que estão a derivar do isolamento de zonas geográficas e que têm obrigado à alteração de rotas marítimas e aéreas”. Face aos constrangimentos dos últimos dois anos, o presidente da direção da APLOG refletiu sobre uma inesperada mudança de mentalidade. “Mais do que pensar no ‘just in time’, é mais importante adotar uma mentalidade de ‘just in case’, ou seja, ter stocks, hoje, é uma segurança e faz todo o sentido termos planos alternativos ao nível de stocking”.

Já Alexandre Bastos, da AHRESP, lembrou que “a incerteza, tanto atual como dos dois últimos anos, traz consigo a insegurança”. Ao reforçar que o sector “está em convulsão há dois anos”, Alexandre Bastos lamentou que, aos dias de hoje, “não se pense que o pior já passou, mas sim que o pior ainda está para vir”, antevendo uma crise aguda no sector, provocada por diferentes fatores: “dúvidas nos abastecimentos, escassez de produtos, faturas energéticas elevadas, crise e elevados custos dos transportes e, por fim, a incerteza que se poderá traduzir numa fortíssima escalada de preços”.

Em nome dos Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), Rui Lopo partilhou os efeitos perigosos em que a incerteza tem resultado no sector da mobilidade. Por isso, o responsável enalteceu o papel assumido pelo Estado nos últimos dois anos, “que ajudou no suporte à manutenção do sector”, e que, indiscutivelmente, “continuará a ter de assumir devido, precisamente, ao contexto de plena incerteza que vivemos”. No entanto, o administrador da TML lançou o apelo para “trabalharmos todos no mesmo sentido, para que o peso da fatura energética nacional seja minimizado”.

Por fim, Manuel Moura, da ADFERSIT, lamenta que estejamos “irremediavelmente condicionados pela inação dos últimos 20 anos”, sendo por isso “imperativo” um “planeamento a longo prazo” para que as infraestruturas sejam “devidamente eficazes” e sirvam o seu propósito. Para que isso aconteça, explicou, as decisões não se podem basear na situação orçamental do momento, mas, sim, em perspetivas financeiras a médio/longo prazo. “As infraestruturas de transportes, que são de longo prazo, têm de ser pensadas a longo prazo e não podem ser equacionadas com a situação orçamental do momento”.

 

4.ª Revolução Industrial em curso

Ainda antes do painel debate, o evento da GS1 Portugal contou com uma apresentação do diretor geral da COTEC Portugal, Jorge Portugal, que alertou para uma nova revolução industrial, que já está em curso, e que será “muito assente ao nível da energia”, considerando as atuais metas europeias para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, nomeadamente na queda de até 50% das emissões até 2050. “A boa notícia é que 70% desse esforço poderá ser realizado com inovações que, tecnologicamente, já existem ou estão em fase pré-comercial”, acrescentou Jorge Portugal, remetendo para soluções existentes que recorrem à eletrificação, hidrogénio verde ou eficiência energética.

Contudo, o diretor geral da COTEC lembra que as infraestruturas existentes não correspondem à tecnologia já disponível, obrigando, por isso, a “colaborações transnacionais”. Sob este contexto, nasce uma “nova variável única, o preço de poluir”. “Há uma racionalidade das empresas para investir”, apontou Jorge Portugal, explicando esta racionalidade “tem a ver com a possibilidade de competir, criar eficiência, ganhar competitividade, reduzir custos e ter o retorno desse investimento”.

Perante os desafios, foram enumeradas algumas soluções a considerar para o futuro: aposta em soluções de plataformas eletrónicas agregadoras, optar por arquiteturas tecnológicas para soluções integradas, com base em normas comuns, aumentar os níveis de segurança e fiabilidade e, por fim, apostar na literacia informática.

 

A importância da mentalidade

Na sequência das antevisões feitas pela COTEC, a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) salientou a “importância do mindset” em contextos de incerteza, como o que vivemos atualmente. Hugo Oliveira, chefe de Divisão de Avaliação de Políticas Públicas e Monitorização Sectorial da AMT, explicou que “essa mentalidade deve ser de antecipação, de modo a potenciar soluções inovadoras de mobilidade e logística, sobretudo para os utilizadores”.

Ao lembrar os objetivos estabelecidos, a nível global, tanto pela Agenda 2030 da ONU e do Pacto Ecológico Europeu, a AMT reforça que os mercados da mobilidade e transportes têm que ser sustentáveis no seu todo, através de medidas como adotar abordagens proativas, de modo a explorar novos desenvolvimentos, monitorizar e quantificar o desempenho dos sistemas de transporte, apostar na melhora das competências de planeamento e incentivo à cooperação e partilha de conhecimentos internacionais, numa abordagem de aprendizagem via execução.

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