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IKEA e Ikaros-Hemera à boleia do sol

Preocupada em reduzir a sua pegada ecológica e em melhorar a sua eficiência energética, a IKEA Portugal tem agora a cobertura das suas lojas preenchida com painéis fotovoltaicos. Especialista em fornecimento de sistemas fotovoltaicos, a instalação dos 11 mil painéis solares ficou a cargo da Ikaros-Hemera.

Especialista na apresentação de soluções chave-na-mão de produção descentralizada de energia e eficiência energética, coube à Ikaros-Hemera a elaboração e execução do projeto. Através de um concurso internacional, a casa mãe da IKEA lançou um “simples” desafio: proceder à instalação de painéis fotovoltaicos nas suas lojas, de forma não só a reduzir a sua pegada ecológica como a tornar-se mais independente no que à energia diz respeito. “O concurso abrangia, inicialmente, quatro países, entre os quais França e Portugal. Foram consultados vários fornecedores de fotovoltaicos europeus e acabámos por vencer esse concurso. Nós, Ikaros-Solar, grupo onde se insere a Ikaros-Hemera. Desses quatro países, acabou por se cingir apenas a dois, França e Portugal, por serem os países com legislação favorável para a instalação deste tipo de sistemas. Então avançou-se com França e Portugal e com uma legislação muito curiosa que foi pioneira nos dois países, a legislação do autoconsumo”, explica Duarte Caro de Sousa, diretor geral da Ikaros-Hemera.

Se até então os painéis estavam muito associados a tarifas subsidiadas onde se vendia a rede, a alteração da legislação, em 2015, veio mudar o panorama. “Entrámos numa fase totalmente diferente, muito relacionada com o aumento da competitividade e com a redução do preço da tecnologia em fotovoltaicos. Essa subsidiação já não é necessária e, tanto em França como em Portugal, a legislação permite o autoconsumo, ou seja, as lojas produzem a sua própria energia, evitando ter de a comprar à rede, vindo a tal poupança e autonomia que se consegue em cada uma das lojas”, acrescenta.

Vencedora do concurso, a Ikaros-Hemera pôs mãos à obra. Em França, o projeto englobou 20 lojas IKEA, ao passo que em Portugal os painéis foram colocados nas cinco lojas existentes, Alfragide, Loures, Braga, Matosinhos e Loulé, onde está a ser concluída a instalação. O resultado final é de 11 mil painéis, no conjunto de todas as lojas, num investimento total de cinco milhões de euros.

Desde 2015, com a nova legislação, que em Portugal é possível que qualquer entidade, desde o pequeno consumidor doméstico, a nossa casa, passando das lojas às maiores fábricas, instale este tipo de sistemas e beneficie desse tal autoconsumo. Este é dos fatores que torna este tipo de investimento tão apelativo. Mas não só. “Este tipo de investimentos vai sendo cada vez mais atrativo e faz cada vez mais sentido do ponto de vista económico. Por um lado, temos tido uma evolução muito favorável por parte dos custos com esta tecnologia fotovoltaica, por outro, temos verificado também um crescente incremento dos preços da energia. Estes dois efeitos têm permitido que cada vez seja mais atrativo fazer este tipo de investimento e as empresas poderem beneficiar desta ferramenta de eficiência energética para que consigam reduzir os seus custos energéticos. Os períodos de retorno do investimento para este tipo de tecnologia poderão estar entre os cinco e os oito anos, dependendo das características de cada sistema, e estes sistemas têm um período de vida útil de 25 anos”, explica Duarte Caro de Sousa.

Se no retalho esta não é uma realidade ainda muito comum, a verdade é que a legislação veio impulsionar o negócio da Ikaros-Hemera. Se até há algum tempo o sector agrícola era bastante decisivo por ser dos que mais investe nesta realidade, hoje em dia, os “clientes” aparecem das mais diversas áreas. “O sector agrícola tem tido um peso grande no nosso portfólio em termos de instalação, o que não significa que seja aquele que mais instala. O que é facto é que, a partir do momento que esta legislação do autoconsumo começou a entrar em vigor, de uma forma gradual, mas relativamente lenta, as empresas têm vindo a olhar para e a adotar este tipo de soluções. Temos experiências de retalho, de logística, de indústria, etc.”.

Com uma quota de mercado entre os 10% e os 15%, a Ikaros-Hemera terminou o ano de 2017 com uma faturação na ordem dos 10 milhões de euros, valor para o qual a IKEA contribuiu em grande medida. Atuando em mercados como Bélgica, Reino Unido, França, Holanda, Turquia, Índia e México, o grupo decidiu instalar o seu centro de competências em Portugal, que conta já com mais de 20 pessoas. Beneficiando da crise económica e financeira, a Ikaros-Hemera percebeu que existia aqui uma oportunidade. “Em Portugal, temos uma qualidade de engenheiros, e engenheiros que na altura estavam disponíveis, muito acima da média em áreas como a engenharia civil, mecânica ou eletrotécnica. Depois, existe também a facilidade das línguas. É muito fácil encontrar em Portugal quem fale inglês, francês ou espanhol, o que permite dar apoio a outras zonas geográficas. Não há um único projeto que não passe por aqui”.

O grupo espera agora que outros sigam o exemplo da IKEA, contribuindo, assim, para um ano igualmente positivo. “Um bom ano de 2018 será continuar com o ritmo e a senda de instalações e clientes, seguindo o que foi feito em 2017. Esperamos crescer mais no segmento do autoconsumo, nomeadamente em tudo aquilo que tem a ver com o retalho e o sector mais industrial”, remata.

O projeto IKEA
Com a produção de energia proveniente dos painéis fotovoltaicos a representar cerca de 27% do total de energia gasto, a IKEA continua a procurar outras formas de sustentabilidade. Para Fernando Caldas, diretor de expansão da empresa sueca em Portugal, essa constante preocupação segue a visão do fundador da empresa, Ingvar Kamprad. “O projeto dos painéis fotovoltaicos estava a ser estudado há bastante tempo e insere-se numa política global da IKEA de sustentabilidade, de tornar-se, de alguma forma, totalmente independente do ponto de vista energético. O que isto quer dizer é que tentamos produzir toda a energia que consumimos nas nossas operações. A nova legislação permitiu-nos isso, encaixando perfeitamente no nosso padrão de consumo. Quando o painel solar está a produzir, é quando estamos a precisar de energia e isso foi decisivo na aprovação do projeto por parte da nossa casa-mãe. Na IKEA, somos inspirados pela visão do nosso fundador: criar um melhor dia-a-dia para a maioria, sejam eles os nossos clientes, os nossos colaboradores ou as sociedades onde estamos inseridos. Isto faz parte do nosso ADN e reflete-se na nossa sustentabilidade”, explica Fernando Caldas.

Para além dos painéis fotovoltaicos, a empresa tem outras propostas que visam o grande objetivo de tornar-se energeticamente independente. Basta olhar para cima, nas lojas e escritórios, para ver os “solar tubes”, tubos solares que permitem o aproveitamento da luz solar diretamente para salas de reunião ou para a própria loja. Ainda nas lojas, a iluminação é feita através de luzes LED, o que permite uma redução no consumo e na fatura energética. De forma mais local, a IKEA de Loures aproveita a proximidade para com a ETAR para arrefecer os seus chillers.“Outro exemplo é a certificação ambiental do nosso projeto de Loulé, que, pela primeira vez em Portugal, é certificado BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method). Estamos muito alinhados com o grupo nesta estratégia, que é transversal desde a forma como pensamos os nossos produtos, à forma como construímos os nossos edifícios e como as pessoas encontram a IKEA no dia-a-dia. A sustentabilidade está sempre presente”, acrescenta. Mais recentemente, a Autoridade da Concorrência deu luz verde à IKEA na compra do Parque Eólico do Pisco, em Guarda, à semelhança do que já acontece noutros países.

Com cinco lojas e mais de dois mil postos de trabalho, a IKEA é um dos retalhistas mais conhecidos no mercado nacional e isso reflete-se também no número de visitantes. Só no último ano, a IKEA Portugal registou 14 milhões de visitantes, crescendo 17% face ao ano anterior. Numa altura em que muito se fala de futuro, Fernando Caldas não levanta muito o véu sobre o percurso da IKEA em Portugal, confirmando apenas que a expansão irá certamente acontecer. “A expansão vai existir, se calhar não com estes formatos a que estamos habituados, com estas grandes lojas, mas com formatos diferentes. É nisso que estamos concentrados agora: estudar de que forma podemos levar o nosso conceito à maioria dos portugueses. Queremos aproximar-nos das pessoas do interior e isso é agora o nosso foco, levar este conceito mais perto dos portugueses”.

Para 2018, a IKEA promete aquilo que sempre apresentou aos portugueses: surpresa e inovação. “Este ano, esperamos consolidar o nosso investimento no Algarve, tanto na loja como no centro comercial e no outlet. E, depois, expandir-nos de forma a estar cada vez mais perto dos portugueses, esse é o nosso grande objetivo, mais do que a nível de faturação. Se acabarmos o ano com esta mensagem, de levarmos o conceito IKEA a mais portugueses, será um bom ano para nós”, conclui Fernando Caldas.

Este artigo foi publicado na edição n.º 49 da Grande Consumo.

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