“Temos lojas mais pequenas como parceiros, que sem o KuantoKusta não alcançariam o cliente que nunca passaria à sua porta”

Há 14 anos em atividade, o KuantoKusta acredita que teve um contributo no atual momento de desenvolvimento vivido pelo e-commerce em Portugal. Em entrevista à Grande Consumo, Paulo Pimenta, CEO da plataforma, reitera que o papel desta na democratização do digital, ao dar visibilidade aos operadores de menor dimensão. Recentemente, o comparador de preços líder no mercado nacional fez uma viragem estratégica e enveredou pelo modelo de marketplace. Conquistada a confiança do consumidor e os níveis de tráfego desejáveis, fazia sentido concluir o ciclo e permitir a quem utiliza a sua plataforma comparar e comprar no mesmo local. Com o previsto alargamento do modelo ao segmento do retalho alimentar, o objetivo é o marketplace venha a representar, em 2022, 80% da faturação.

Grande Consumo – O KuantoKusta assinalou, em maio, 14 anos de atividade. Que balanço pode fazer deste período?

Paulo Pimenta – É verdade. Completámos 14 anos. Tem sido um caminho cheio de conquistas e desafios. O mercado online tem vindo a crescer exponencialmente e nós conseguimos crescer mais do que o mercado e acompanhar as suas mudanças.

Quem entra neste mercado tem de estar ciente de que é preciso constante desenvolvimento, acompanhar o mercado para se manter ativo e atual. Estamos muito contentes com o caminho percorrido até agora e mais entusiasmados ainda com o futuro que se avizinha.

 

GC – Consideram que a crise veio dar uma ajuda ao vosso negócio, ao despertar os portugueses para a utilidade dos comparadores de preços?

PP – A comparação de preços é uma preocupação dos portugueses, estejamos nós em época de crise ou não. É óbvio que, havendo menos poder de compra, as pessoas têm mais cuidado onde gastam o dinheiro. Mas a verdade é que também “fogem” um pouco mais dos bens que não sejam de primeira necessidade.

Agora que o poder de compra está a aumentar, as pessoas viram-se mais para compras extra e, aí sim, procuram o sítio onde podem fazer essa compra com melhor preço.

Por isso, não nos guiamos pela crise, nem podemos dizer que temos mais procura quando a crise está mais instalada. Na maior parte das vezes, até é ao contrário.

 

GC – Arrancaram com 20 lojas iniciais, em 2005. Quantas têm hoje?

PP – Hoje, temos mais de 600 lojas ativas.

 

GC – Sentem que têm vindo a contribuir para a democratização do e-commerce em Portugal, ao dar às pequenas lojas a visibilidade que, de outro modo, não tinham e mostrar que, também elas, podem ter bons preços? É esta a vossa missão?

PP – O e-commerce em Portugal está a começar a expandir-se. Uma vez que começámos há 14 anos, não podemos deixar de pensar que tivemos alguma contribuição para esse crescimento em Portugal.

Somos uma marca que os portugueses conhecem e em que confiam e é isso que queremos. Que o cliente final nos procure porque sabe que, na nossa plataforma, vai encontrar o que procura.

Em relação aos parceiros, a verdade é que somos uma janela para o país que, de outra maneira, eles nunca teriam. Temos realmente lojas mais pequenas como parceiros, que sem o KuantoKusta não alcançariam o cliente que nunca passaria à sua porta. As pequenas e médias empresas tiveram uma grande ajuda com o KuantoKusta. Trabalhamos para um modelo “win-win-win”. Queremos que todos ganhem. O parceiro, o cliente final e, claro, nós também. 

 

Paulo Pimenta

GC – Em 2018, após 13 anos como comparador de preços, decidiram converter-se num marketplace. O que esteve na base desta viragem estratégica?

PP – Sempre fomos comparador de preços. Tínhamos a confiança do cliente final do nosso lado. Tínhamos o tráfego diário necessário. O mercado internacional está a funcionar com inúmeros marketplaces e acreditamos que o e-commerce vai continuar a crescer por aí. Por isso, não havia razão para não termos o nosso marketplace e dar a possibilidade ao cliente que vinha pesquisar preços a finalizar a compra connosco. Foi um passo óbvio, que não podíamos deixar de fazer e que nos orgulhamos de ter feito e de estar a correr bem.

 

GC – Que balanço pode fazer destes primeiros meses de atividade enquanto marketplace? Estão em linha com os objetivos que se propuseram alcançar?

PP – Não nos queremos distanciar da nossa essência. Somos o comparador de preços dos portugueses. Inovámos e damos agora a possibilidade da compra no nosso site, de maneira segura e rápida.

A aceitação dos portugueses tem sido muito boa, porque já nos conheciam, já confiavam e é fácil e intuitivo seguir este caminho. Comparar e depois comprar. O balanço destes meses tem sido muito positivo, quer da parte dos clientes finais, quer da parte dos parceiros. Estamos contentes com os objetivos cumpridos.

 

GC – Trata-se de um canal de vendas com elevado potencial em Portugal?

PP – Sem dúvida nenhuma. Portugal está ainda muito atrás das percentagens de compras online europeias. O que é excelente, porque temos ainda imenso por onde crescer. É ótimo porque sabemos que a tendência é esta e, por isso, o caminho a percorrer está à nossa frente.

 

GC – Quais são os vossos principais concorrentes?

PP – Em termos de comparador de preços não temos concorrência nacional. Existem comparadores de preços estrangeiros. Em Portugal, ainda apareceram alguns depois de nós, mas acabaram por fechar. Somos o único comparador de preços em Portugal e estamos bem assim.

Em termos de marketplace, não fomos os únicos a acordar para essa realidade e temos a Worten, a Fnac e, agora, mais recentemente, a Dott que estão neste segmento de mercado.

 

GC – De que modo o modelo de negócio de marketplace é distinto do de comparador de preços?

PP – O modelo de marketplace funciona com comissão de venda, enquanto que o modelo de comparação de preço funciona com valor por clique. É completamente diferente em termos de modelo de negócio, não se mede o resultado com as mesmas premissas.

Mas é, sem dúvida nenhuma, uma mais valia que temos, em que acreditamos e apostamos.

 

GC – Porquê a escolha da DHL Parcel como parceiro logístico? As lojas que fazem parte do vosso universo podem escolher outro método de entrega?

PP – O KuantoKusta quer ter o maior leque possível de opções, não só de artigos, mas também de serviços ao nosso parceiro. A parceria com a DHL Parcel surge por ser um “player” reconhecido no mercado, com valores competitivos, e quisemos ajudar os parceiros pondo-lhes esta opção em cima da mesa.

Mas não há absolutamente nenhuma obrigatoriedade na utilização deste serviço. O parceiro pode fazer a entrega com o distribuidor que pretender e o cliente até pode fazer o levantamento do artigo na loja. Temos todas as opções em aberto, queremos ser o mais flexíveis possível para trazer a maior vantagem para todos.

 

GC – Em 2017, atingiram um resultado recorde, em termos de faturação e visitas ao site (1,7 milhões de euros e 30 milhões de visitas, respetivamente), que consolidaram em 2018, já como marketplace. E para este ano, qual a ambição, tendo em conta esta nova etapa da empresa?

PP – Em relação a 2018, os números estão à volta de 2,3 milhões de euros de faturação, com a ajuda de 34 milhões de visitas.
No que diz respeito ao ano corrente, acreditamos crescer e ficar a rondar os três milhões de euros e os 40 milhões de visitas.

 

GC – Preparam-se agora para alargar o modelo de marketplace ao segmento de retalho alimentar. É um sector apetecível, não obstante a fraca adesão dos portugueses às compras online de alimentos e aos elevados custos logísticos que estão inerentes?

PP – A questão dos portugueses não terem ainda adesão é algo que queremos mudar. Também não havia nas compras de outros artigos e os números começaram a mudar. Temos de ser nós a despertar as pessoas para esses interesses.

Hoje em dia, cada vez temos menos tempo para ir às compras e muito menos para conseguirmos apanhar as promoções todas e comparar onde é mais vantajoso. Há vários “players” no mercado alimentar, com campanhas agressivas, e o que pretendemos é ajudar o consumidor final a tirar o melhor partido de todos eles. Os custos logísticos fazem parte. Não vamos deixar de lado esta oportunidade, por causa disso. Temos ainda muito trabalho pela frente, antes de tornarmos este projeto uma realidade.

 

GC – Vai ser este sector que irá alavancar o objetivo de que o marketplace venha a representar, em 2022, 80% da vossa faturação?

PP – Vai ser tudo junto. Irá ser uma ajuda, sem sombra de dúvida, mas o marketplace também tem estrutura para sustentar a faturação. Essa percentagem está alavancada no KuantoKusta atual, em que temos tanto o marketplace a funcionar, como também a questão de comparação de preço, que não queremos de modo algum descurar.

 

GC – Como analisa o estado do comércio eletrónico em Portugal?

PP – O comércio eletrónico em Portugal está a despertar. Estamos muito atrás de países europeus. Temos ainda muita gente com medo de pagamentos pela Internet, mas cada vez mais pessoas se estão a render e as gerações mais novas já estão na onda digital. O lado bom disto é que temos ainda imenso por onde crescer. É bom olharmos para o futuro e vermos que quase ainda nem começámos.

 

GC – Consideram que é possível recuperar a taxa de compra dos portugueses face a outros países europeus? O que poderá funcionar como motor de crescimento?

PP – Sem dúvida nenhuma, apenas temos de ir ao nosso ritmo. Há vários fatores que nos levaram a não despertar para este mundo tão cedo: temos imensas opções de compra física muito perto de nós, temos imensos shoppings, coisa que nos outros países não há. Temos uma cultura de carro próprio, que faz com que nos seja facílimo ir fazer compras a um espaço físico, ao contrário de países que funcionam maioritariamente com transportes públicos. Temos bom tempo, que faz com que as pessoas saiam mais de casa. São pequenos exemplos que justificam o nosso “atraso” na taxa de compra online. Por isso, vamos ao nosso ritmo.

Estamos a crescer e a entrar neste mundo, ao nosso ritmo.  Mas estamos a acordar para esta realidade, de compra em casa, através de smartphones, com segurança e rapidez e temos a certeza de que vamos ter cada vez mais compras online e de valores muito interessantes.

 

GC – O que é que os portugueses gostam de comprar online?

PP – Nós temos a enorme vantagem de ter tudo. Há mesmo muito pouca coisa que o cliente possa precisar e que não tenhamos e, se isso acontecer, queremos saber para colmatarmos essa lacuna. Felizmente, os clientes já têm noção disso, por isso, temos pesquisas cada vez mais diversificadas.

Os smartphones e artigos informáticos continuam a estar no topo da lista, mas artigos como a dermocosmética, fitness e perfumes são muito pesquisados e comprados. Um fator que levou ao crescimento destas categorias foi o facto de termos cada vez mais mulheres a comprar no KuantoKusta. Antes, éramos um site maioritariamente utilizado por homens, mas com a diversificação de oferta, as mulheres descobriram-nos e, agora, 45% dos utilizadores são mulheres.

 

GC – A barreira da menor confiança nas compras online está já ultrapassada?

PP – Sim, estamos a começar a confiar mais. Já temos 14 anos, somos uma marca conhecida dos portugueses e, por isso, sentimos confiança deles em nós. Há também cada vez mais métodos de pagamento que são seguros e as pessoas estão mais informadas.

 

GC – Atualmente, quais os principais desafios ao desenvolvimento das vendas online? As barreiras alfandegárias são um forte fator de inibição?

PP – Sem dúvida nenhuma. Em termos de internacionalização, o fator alfandegário pesa muito. Há custos e “timings” que tornam a entrada em alguns países não justificável. Num mundo em que as fronteiras digitais praticamente não existem, as terrestres ainda condicionam muito o trabalho digital. Mas, mesmo assim, já há alguma oferta nacional e europeia muito forte e já há quem consiga que se compre quase tudo sem essa limitação.

 

GC – Faltam mecanismos reguladores que permitam fazer face a todos esses desafios?

PP – Sim, neste momento, os mecanismos reguladores precisam urgentemente de ser atualizados, porque estamos a ter que nos reger por regras antigas, que foram elaboradas para o comércio físico.

 

GC – O que ambiciona para o KuantoKusta no horizonte de 10 anos?

PP – Queremos ser o site de referência em Portugal, que todos usam para comparar os preços das aquisições do dia a dia. Pretendemos ser o aliado diário na procura do melhor produto e dos melhores preços.

 

GC – Abandonaram o mercado espanhol, em 2017. Não consideram colocar a questão da internacionalização novamente em cima da mesa?

PP – Com tanta coisa ainda para ser feita nacionalmente, não faria sentido irmos para fora agora. Estamos focados no mercado português, neste momento.

 

GC – O que seria um bom ano de 2019 para o KuantoKusta?

PP – O que queremos alcançar, em 2019, é um crescimento, tanto em visitas, como em faturação, na ordem dos dois dígitos, em paralelo com um aumento de notoriedade e confiança dos nossos utilizadores.

Este artigo foi publicado na edição n.º 58 da Grande Consumo.

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