Take away é uma opção cada vez mais atrativa para o consumidor

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A conveniência continua no topo das listas de compras dos consumidores, nos dias de hoje, fazendo com que os itens “to go” e as refeições prontas a consumir sejam uma oportunidade importante e um diferencial para os retalhistas. Além disso, segundo um relatório da Nielsen, os consumidores preparam apenas 4,6 jantares em casa, a cada semana, e a maioria dos clientes não está interessada em gastar mais de 30 minutos no tempo de preparação de uma refeição. Mesmo entre os cozinheiros domésticos, mais de metade gosta de usar ingredientes semi-preparados para ajudar a colocar a comida na mesa mais rápido. À medida que a conveniência evolui e se torna num fator cada vez maior nas decisões de compra, os retalhistas vão ter que examinar o seu foco num mercado que cresceu, em valor, em todos os seus segmentos.

 

O estudo “Radiografia do consumo atual na Restauração e Delivery” da Kantar conclui que mais de metade (51%) dos espanhóis compraram comida para entrega ao domicílio em 2018. Edurne Uranga, Consumer Director da Kantar Worldpanel Division e responsável pelo relatório, destaca que “marcas e cadeias enfrentam um novo terreno onde o consumidor é cada vez mais complexo, gasta menos e o faz de forma mais desestruturada – no trabalho, na rua, nos transportes públicos, etc; – e onde as linhas tradicionais de canais, restauração e grande distribuição, ficaram difusas”.

Alguns exemplos mostram claramente como esta linha, até agora tão marcada, está a tornar-se mais desfocada a cada dia. Hoje, hipermercados e supermercados já concentram 7% de todo o consumo fora de casa, com 59% de penetração e uma média de 18 visitas por ano. Atualmente, metade destas visitas é para comprar bebidas frias e snacks, mas previsivelmente, durante este ano, também se somarão as compras de refeições preparadas na hora, permitindo que o supermercado capture ocasiões tipicamente geridas pela restauração. “Vivemos numa época em que o imediato ganha importância crescente e os clientes estão habituados a obter respostas rápidas. Em consequência disso, são inúmeros os serviços que nascem para responder ao sentido de urgência. Nesta ordem de ideias, ficam explicados os crescimentos muito significativos, tanto em volume como em valor, que esta categoria tem apresentado nos últimos anos. A procura por este tipo de produtos está diretamente relacionada com alterações de estilo de vida dos consumidores, que cada vez têm menos tempo disponível e procuram soluções rápidas e/ou convenientes”, afirma Paulo Aleluia, Category Leader Take Away do Continente.

Segundo o responsável, o consumidor está cada vez mais bem informado e procura encontrar soluções mais simples, com maior qualidade e cada vez mais naturais e, como tal, o desenvolvimento de novos produtos, do lado da oferta, é uma realidade que contribui para desfazer o paradigma da “comida artificial” que estava associado ao pronto a comer.

De acordo com uma análise da Nielsen, relativa ao ano móvel findo a 19 de maio, a categoria de take away cresceu 10% em vendas em valor, atingindo os 187,9 milhões de euros. Já a categoria de cafetaria/pronto a comer destaca-se com um aumento de 15% nas vendas em valor, chegando aos 86,7 milhões de euros. E, por sua vez, as refeições e componentes refrigerados são responsáveis pela venda de 218 milhões de euros, representando uma evolução positiva de 7%. “As mudanças sociológicas a que temos vindo a assistir, nos últimos anos, trazem-nos um consumidor que pede mais tempo e menos esforço nas suas compras. Fatores como a rápida urbanização das populações, o aumento da densidade populacional, a redução dos agregados familiares, a sobrelotação dos transportes, entre outros, são indicadores de que o ‘shopper’ vive num ambiente hiperativo e hiperconectado. O desafio de manter o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é uma realidade, sendo esta uma das principais preocupações dos consumidores portugueses”, comenta Ana Paula Barbosa, Retailer Vertical Director da Nielsen.

Com mais confiança e mais disponibilidade para gastar, mais de metade dos consumidores portugueses afirmam que “vale a pena pagar mais por qualquer coisa que lhes faça poupar tempo”, segundo o estudo “ShopperTrends” da Nielsen. De acordo com Ana Paula Barbosa, os consumidores procuram conveniência na simplicidade e nas soluções que lhes permitam poupar tempo, que facilitem a sua vida ou que melhor se adequem às suas necessidades. Esta conveniência deve estar nos formatos das lojas, nos produtos, nas embalagens, nos serviços ou no recurso às novas tecnologias. No seguimento desta realidade, assiste-se, de facto, a crescimentos significativos em categorias como o take away, a cafetaria/pronto a comer e as refeições e componentes refrigerados.

Para além disso, segundo o relatório “The Quest for Convenience”, igualmente da Nielsen, também a compra online de refeições para entrega ao domicílio regista um dinamismo de 9% (2018 versus 2017), chegando já a 26% dos portugueses com acesso à Internet.

Com um comprovado aumento da procura de soluções de conveniência, a responsável da Nielsen confirma que “o tempo é, sem dúvida, a nova moeda de troca para os consumidores de hoje”.

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Uma área imprescindível

Em 2018, nas cozinhas centrais do Pingo Doce, foram produzidas 10 mil toneladas de comida, entre sopas, pratos e sobremesas. Esta é uma aposta para a insígnia que começou em 2003, sendo que, após alguns anos, implementou as primeiras cozinhas centrais e abriu os primeiros restaurantes dentro das lojas Pingo Doce. “Em 2011, foi feita a consolidação das cozinhas existentes e inaugurada a cozinha central das Meal Solutions, localizada em Odivelas, que tem contribuído para aumentar a oferta de refeições ‘caseiras’ prontas. Com uma área de seis mil metros quadrados, a cozinha conta atualmente com cerca de 180 colaboradores. Brevemente, será inaugurada uma nova cozinha em Aveiro, aumentando significativamente a capacidade de produção”, explica João Freitas, diretor da área de Meal Solutions do Pingo Doce.

Trata-se de uma estratégia importante para a insígnia do Grupo Jerónimo Martins, que tem como premissa corresponder às expectativas dos consumidores e integrar na sua estratégia propostas de valor que satisfaçam as suas necessidades, visto que o consumidor procura, cada vez mais, soluções imediatas e de conveniência. “Ainda que não se possa generalizar, há uma tendência evidente: grande parte dos consumidores tem cada vez menos tempo e disponibilidade para preparar refeições. Por esse motivo, as propostas de refeições prontas têm vindo a ganhar espaço nos supermercados. Também a nível internacional, temos assistido, nos mercados mais desenvolvidos, a uma evolução do retalho alimentar nesse sentido, com as grandes cadeias a apostarem mais intensamente neste tipo de soluções”, diz o responsável.

Mariana Santos, especialista de saladas e sopas da Mercadona, concorda. O conceito do pronto a comer tornou-se numa tendência natural do sector da distribuição, ganhando cada vez mais peso nas compras dos consumidores. “A qualidade e a variedade da oferta das superfícies comerciais, somando-se ao estilo de vida dos consumidores, foram os motivos para o desenvolvimento e implementação nas lojas da Mercadona”.

A implementação da secção de pronto a comer das lojas da cadeia espanhola iniciou em agosto de 2018, no supermercado de Burjassot, em Valência, com o objetivo de funcionar como projeto piloto para testar e aprender. Atualmente, são aproximadamente 150 supermercados com pronto a comer, em toda a Espanha, além das quatro já implementadas em Portugal. “O projeto de internacionalização em Portugal deu ainda mais força ao desenvolvimento desta nova secção, uma vez que, nas pesquisas que fizemos sobre o país, pudemos constatar que os serviços de pronto a comer estavam muito desenvolvidos. No desenvolvimento deste projeto, serão investidos 120 milhões de euros até finais de 2019, ano em que a empresa pretende integrar o pronto a comer em cerca de 300 supermercados”, refere Mariana Santos.

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Opção saudável

A tendência dos alimentos de conveniência vai continuar a crescer, com os compradores cada vez mais dispostos a pagar mais para poder levar para casa alimentos pré-cortados ou pré-preparados, economizando minutos do seu tempo livre. Assim, e com os consumidores a tentarem alimentar-se de forma mais saudável, as insígnias acabam por desempenhar o papel de chefs, responsáveis pelo que as famílias portuguesas levam para a mesa. “A alimentação tem evoluído e sofrido grandes mudanças, ao longo dos últimos anos, com o aparecimento de novas tendências de consumo. Atualmente, temos consumidores mais preocupados com a sua saúde, o que, consequentemente, implica uma preocupação com os ingredientes, as suas origens e perfis nutricionais. Isso tem obrigado a indústria a desenvolver soluções que vão ao encontro destas tendências. O Pingo Doce tem feito esforços no sentido de respeitar e acompanhar estas mudanças nos hábitos de consumo. Exemplos disso são o lançamento das sopas sem sal, de refeições mais leves de take away ou soluções vegetarianas”, diz João Freitas.

O take away de hoje deve atender a um tema comum: ajudar um consumidor muito ocupado e com cada vez menos tempo disponível a ser capaz de colocar comida mais saudável e fresca na mesa, da forma mais rápida possível. Assim, também a Mercadona opta por preparar, na hora, as refeições que disponibiliza ao consumidor. No total, conta com uma oferta de 35 pratos na secção de pronto a comer. Quando a implementaram em Portugal, mais concretamente na zona norte do país, a insígnia quis ter os pratos típicos desta região, assegurando sempre a qualidade da refeição. Deste modo, a gastronomia portuguesa tem um papel significativo e a sua oferta conta com, entre outros, o Polvo em Molho Verde, o Cozido à Portuguesa e ainda as famosas Tripas à Moda do Porto. Mariana Santos explica ainda que “as pizzas e massas são feitas na hora, é o cliente que escolhe os ingredientes destes pratos. Temos os salgados, como os croquetes e os rissóis, que são fritos no momento, garantindo ao cliente a qualidade do produto (temos equipamentos que nos permitem fritar os salgados em três minutos), e temos outras refeições que preparamos para o cliente consumir no momento”.

Apesar da sua recente estreia no mercado português, a Mercadona já vê crescimento nesta área de negócio. “Os clientes apreciam a qualidade dos produtos e têm dado destaque a alguns aspetos da secção, como o facto de puderem preparar a sua própria salada com os ingredientes que mais apreciam, levar uma massa feita no momento a seu gosto ou a seleção de refeições mais elaboradas e típicas, como o caso do Cozido à Portuguesa, do Bacalhau com Natas ou até mesmo a Lasanha à Bolonhesa”.

Já o porta-voz da Category Planner de Take Away do Continente realça a evolução da tecnologia e dos métodos de produção, que têm permitido à insígnia obter produtos cada vez mais frescos e saborosos. Adicionalmente, estas opções tornam-se mais cativantes pela colaboração exclusiva com chefs, como, por exemplo, a do Continente com os chefs Hélio Loureiro e Kiko Martins. Assim como com a introdução de opções étnicas cuja procura tem aumentado devido às novas tendências na área da restauração. Nomeadamente, o Continente introduziu, em 2018, o conceito dos quiosques de sushi preparado na hora e prontos a levar. Ainda no âmbito do formato take away, desde abril deste ano que a marca Go Natural passou a oferecer as suas refeições pré-preparadas, sopas e sumos nas lojas Continente e também no Continente Online, acompanhando a oferta já disponível de centenas de referências de marca própria. “Uma nota que é transversal é o facto de não adicionarmos quaisquer corantes ou conservantes. O processo de embalamento e manutenção da cadeia de frio permite que as nossas refeições tenham validade sem nunca passarem pelo processo de congelação ou adição de conservantes. Muito brevemente, o Continente irá reforçar a sua gama saudável, com alimentos menos processados e com ingredientes mais frescos, o que vem ao encontro das novas tendências e das necessidades dos clientes”, explica Paulo Aleluia.

Fundamentalmente, o objetivo deve ser permitir a combinação da qualidade de uma refeição caseira com a praticidade de uma compra rápida no supermercado ou hipermercado mais próximo. Algo que, quando aliado a ingredientes frescos e pratos saudáveis, mostra-se uma opção cada vez mais atrativa para os consumidores.

Este artigo foi publicado na edição n.º 58 da Grande Consumo.

“Cabo Verde, ou outros países dos PALOP, não estavam na nossa rota inicial”

“Seja em Portugal, ou na exportação, as nossas marcas têm de atuar como marcas de distribuição”