Reputação das marcas para além da Covid-19

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Imagem Shutterstock

Este é um tempo em que as empresas estão sob pressão para proteger lucros, num momento de incerteza económica. No entanto, não deverão negligenciar o impacto das suas ações durante este período e os efeitos a longo prazo na sua reputação. É um desafio para as marcas, mas também uma oportunidade para fortalecer relações, tornando estes tempos incertos mais navegáveis.

Nas últimas décadas, os consumidores/cidadãos habituaram-se a olhar para as grandes marcas como entidades poderosas, determinantes na evolução das sociedades e capazes de intervir na resolução de questões sociais de uma forma rápida e inovadora.

Num estudo global realizado pela Ipsos antes do início da pandemia (Ipsos Global Advisor – 18.700 entrevistas online em 24 países), 77% dos entrevistados declaravam que, ao decidir sobre a compra de um produto ou serviço de uma empresa/organização, consideravam importante um elevado grau de responsabilidade social. Os consumidores importam-se com o comportamento das marcas e esperam destas uma ação adequada e consistente.

 

Insegurança predomina

No atual contexto, dominado pelos medos e pela insegurança, estão particularmente atentos à forma como as marcas respondem – e tudo o que estas fazem (ou não fazem) é comunicação. Esta pandemia representa um desafio e uma oportunidade para as marcas alinharem o que dizem – a sua razão e propósito -, com o que fazem – o seu comportamento real e tangível.

Espera-se que ajam de forma rápida, assumindo as suas responsabilidades e adotando medidas concretas que aliviem as dificuldades e a crescente ansiedade dos consumidores. As marcas que agirem de forma inequívoca no interesse dos seus funcionários, stakeholders e da sociedade em geral reforçarão a sua liderança e o vínculo que mantêm com os consumidores, sendo depositárias da sua confiança.

 

Governo reúne confiança

O projeto multicliente “Comunidade Covid-19”, desenvolvido pela Ipsos Apeme numa base semanal, mostra que a crise do coronavírus está a ter um efeito particularmente positivo na confiança que os consumidores depositam no Governo e nos cuidados de saúde, mas também em sectores como a grande distribuição, a indústria farmacêutica ou os media de informação.

Por outro lado, a banca parece estar a ser mais penalizada por este contexto, com 38% dos entrevistados a declararem que a sua confiança neste sector diminuiu.

 

Ipsos Apeme - quadro 1

 

Quando questionados sobre os aspetos que, atualmente, mais influenciam o envolvimento e a compra de produtos de uma marca, destacam-se a promoção dos produtos locais, a proteção do emprego e o respeito pelo ambiente.

 

Ipsos Apeme - quadro 2

 

Há valores que, quando cruzados com a questão da confiança, se destacam como particularmente relevantes. Inovação em produtos/serviços relevantes, ações que promovam a segurança de funcionários e clientes, bem como a promoção de produtos locais estão na base de um aumento de confiança na grande distribuição.

 

Ipsos Apeme - quadro 3

 

Por outro lado, olhando para a forma como as marcas têm atuado durante este período, o aspeto que os consumidores mais condenam é o aumento do preço dos seus produtos ou serviços. Aproveitar o momento para subir preços ou para reduzir o esforço promocional pode fazer muito pelos resultados, mas nada pela reputação das marcas. Da mesma forma, é notado com desagrado por muitos entrevistados que “algumas marcas fazem campanhas publicitárias em vez de tomarem medidas concretas de ajuda aos seus clientes”.

Estes são alguns sinais a que as marcas deveriam estar particularmente atentas, evitando a perceção de discrepância entre discurso e ação num momento de crise, mas sobretudo para além dela.

 

Este artigo foi publicado na edição n.º 62 da Grande Consumo.

“A globalização terá que ser repensada, pelo impacto negativo que o corte dos canais de abastecimento internacionais provoca”

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