“O packaging não sustentável representa um risco comercial significativo”

José Oliveira, Sales, Marketing & Innovation Manager Cluster Portugal da DS Smith Packaging
José Oliveira, Sales, Marketing & Innovation Manager Cluster Portugal da DS Smith Packaging

A embalagem representa uma oportunidade de prolongar a mensagem de uma marca até à casa do consumidor. Mas, nos dias que correm, a par deste valor acrescentado e da sua questão funcional de base – entregar os produtos aos clientes nas melhores condições -, as embalagens têm de responder ao desafio da circularidade. A sustentabilidade é uma das grandes tendências atuais e de futuro no sector do packaging, tendo ganho relevância acrescida com os novos hábitos de consumo criados com a pandemia. Empresas como a DS Smith têm vindo a trabalhar na resposta a este desafio, ajudando marcas e retalhistas nos seus esforços de proteção ambiental e a escapar ao risco comercial derivado do packaging não sustentável. Assim nos conta José Oliveira, Sales, Marketing & Innovation Manager Cluster Portugal da DS Smith Packaging.

 

Grande Consumo – Numa altura em que se fala, cada vez mais, da importância da sustentabilidade ambiental e da economia circular, o que é que as empresas e os consumidores esperam do packaging?

José Oliveira – Os consumidores estão cada vez mais informados, mais conscientes da sua pegada ambiental e movidos por valores que preconizam a responsabilidade para com o meio ambiente. Estão dispostos a mudar os seus hábitos de compra, em função do impacto ambiental do packaging, procurando marcas que os ajudem a viver de forma sustentável.

Da mesma forma, a sustentabilidade tornou-se numa prioridade para as empresas, tanto para responder à procura dos clientes, como para cumprir com os requisitos regulamentares. Assim, são cada vez mais as marcas comprometidas com objetivos focados na circularidade e sustentabilidade dos seus produtos e, entre outras medidas, estão a inovar no desenvolvimento das suas embalagens, baseando-se no conceito dos três R’s: “reduzir, reutilizar e reciclar”. 

O packaging assume, deste modo, um papel fundamental, à luz dos desafios globais de sustentabilidade e na transição para uma economia mais circular. Para isso, deve ser desenvolvido de modo a manter os materiais em uso durante o máximo de tempo possível, reduzir os resíduos e contribuir para a regeneração dos ecossistemas naturais. Na DS Smith, encaramos estes desafios como uma prioridade, possuindo um modelo de negócio circular, que engloba as nossas divisões de packaging, reciclagem e papel. 

 

GC – De que forma tem a DS Smith respondido às exigências dos clientes, em termos de soluções sustentáveis e amigas do ambiente?

JO – Um dos objetivos estratégicos da DS Smith é liderar o caminho em termos de sustentabilidade, em linha com o nosso propósito de “Redefinir o Packaging para um Mundo em Constante Mudança”. Por isso, temos ajudado os clientes a adotarem soluções de embalagens sustentáveis, capazes de darem resposta aos estilos de vida atuais com o mínimo impacto ambiental. 

Nesse sentido, a nossa inovação tem sido constante, com o desenvolvimento de soluções que lhes permitam aumentar as vendas, reduzir os custos e minimizar os riscos dos seus negócios. E, através da aplicação dos nossos Princípios de Design Circular, desenvolvidos em colaboração com a Fundação Ellen MacArthur, temos impulsionado a sustentabilidade das embalagens, facilitando a sua reciclagem, evitando a geração de resíduos e prolongando a vida útil dos produtos e materiais.

Têm sido várias as inovações introduzidas pela DS Smith no mercado. Este ano, lançámos Ultim-8, um novo sistema que combina um conjunto de soluções de packaging em cartão canelado e maquinaria, que, além de proteger o meio ambiente, resulta num design que ocupa menos espaço, é mais leve e permite otimizar os custos logísticos. Destacamos, ainda, as nossas mais recentes inovações, que se enquadram no nosso objetivo de conceber produtos alternativos ao plástico: ClimaCell, uma solução de isolamento térmico reciclável direcionada para produtos sensíveis à temperatura, como refeições de entrega ao domicílio, alimentos perecíveis e produtos médicos, a qual é produzida à base de papel e materiais de origem orgânica; ECOVETE, uma embalagem para produtos hortofrutícolas em cartão canelado, 100% reciclável e produzida com matérias-primas recicladas ou de origem sustentável, que favorece a conservação e a segurança dos alimentos, ao ser anti-humidade e antiderrapante; e Eco Bowl, uma solução inovadora para alimentos frescos à base de cartão canelado, coberta por uma fina película de plástico e com uma tampa no mesmo material, que permite que os materiais sejam facilmente separados para reciclagem.

 

“O packaging assume um papel fundamental, à luz dos desafios globais de sustentabilidade e na transição para uma economia mais circular. para isso, deve ser desenvolvido de modo a manter os materiais em uso durante o máximo de tempo possível, reduzir os resíduos e contribuir para a regeneração dos ecossistemas naturais”

 

 

GC – As empresas procuram, cada vez mais, produtos reciclados, que permitam reduzir o impacto das suas atividades no meio ambiente. Esta é uma consideração importante para a DS Smith?

JO – Claro que sim. À medida que acelera o ritmo da mudança no mundo, os consumidores exigem cada vez mais dos produtos e serviços que compram. Em simultâneo, existe a expectativa de que as empresas reduzam radicalmente o seu impacto no meio ambiente e que, sempre que possível, criem um impacto positivo para as pessoas e para o planeta. 

Desde sempre que a preocupação de proteger os recursos naturais, garantir a reciclabilidade das embalagens e reduzir os resíduos e a poluição levaram a DS Smith a colocar a sustentabilidade no centro de toda a sua atividade. É com este foco que ajudamos as empresas a adotarem soluções 100% recicláveis ou reutilizáveis e a substituir os plásticos problemáticos por alternativas mais sustentáveis.

Para reforçar o compromisso com a economia circular e com a proteção do meio ambiente, lançámos, em 2020, a nova estratégia de sustentabilidade Now and Next, que estabelece compromissos e objetivos até 2030, tendo em vista não só reduzir o impacto da atividade no ambiente, como também alargar a nossa responsabilidade na sociedade. A nossa estratégia de sustentabilidade está focada nos desafios atuais, assim como nos que terão impacto nas gerações futuras, e compromete-se a fechar o ciclo através de um melhor desenvolvimento, proteger os recursos naturais tirando o máximo proveito de cada fibra, reduzir os resíduos e a poluição através de soluções circulares e capacitar as pessoas para liderar a transição para uma economia circular.

 

GC – Além de recursos sustentáveis, como é que se pode ter um menor impacto no ambiente dentro dos processos logísticos?

JO – A inovação é fundamental para enfrentar os desafios da atual sociedade de consumo, com produtos cujo desenvolvimento assegure uma utilização mais eficiente dos recursos. No caso concreto das embalagens, não basta o facto de o cartão canelado utilizado na produção do packaging ter uma taxa de reciclagem mais alta do que qualquer outro material de embalagem. É necessário conceber soluções nas quais se utilizam menos fibras, adaptadas aos produtos e às necessidades dos clientes. Desta forma, consegue-se gerar um efeito dominó na sua cadeia de fornecimento, ao reduzir o volume, o material utilizado, a quantidade de paletes para armazenamento ou distribuição, o número de camiões na estrada e, consequentemente, as emissões de CO2.

 

GC – Segundo o estudo europeu realizado pela DS Smith e a IPSOS Mori, 88% dos portugueses quer comprar produtos que utilizem a menor embalagem possível. Esta preocupação com a sustentabilidade vai manter-se entre os consumidores?

JO – O estudo permitiu-nos concluir que o atual contexto de pandemia originou novos hábitos de compra, mas a atitude relativamente à sustentabilidade permanece e os consumidores continuam a priorizar o packaging sustentável. São eco conscientes, reciclam mais do que nunca e esperam que as empresas às quais compram os seus produtos tenham em conta a sustentabilidade. Tanto que 88% dos consumidores portugueses quer comprar produtos que utilizem a menor embalagem possível e cerca de um terço (29%) admite que deixou de comprar determinadas marcas porque as suas embalagens não eram sustentáveis. Além disso, 49% considera importante que os produtos sejam embalados em materiais recicláveis e 40% vai mais além, considerando relevante que estes sejam embalados com materiais reciclados. 

É expectável que estas atitudes prevaleçam no futuro e, portanto, as marcas e os retalhistas não devem descuidar os seus esforços de proteção ambiental, pois o packaging não sustentável representa um risco comercial significativo. 

 

GC – Em termos de embalagem, quais são as maiores exigências do e-commerce?

JO – A cadeia de fornecimento do e-commerce impõe fortes exigências às embalagens. No percurso típico de um produto, este passa por até 50 pontos de contacto, aos quais tem de resistir. Por isso, um dos aspetos fundamentais é garantir soluções de embalagem que respondam aos mais altos padrões de proteção e segurança. 

Uma embalagem de boa qualidade pode fazer toda a diferença, prevenindo a ocorrência de danos, seja qual for a complexidade da cadeia de fornecimento, garantindo a segurança dos produtos, até que o consumidor os receba em perfeito estado, e protegendo-os contra adulteração e furto. 

Para aumentarmos o nosso conhecimento sobre o que ocorre em cada etapa da cadeia de fornecimento, e conseguirmos desenvolver soluções mais eficientes e sustentáveis, criámos o processo de testes DISCSTM. O seu nome provém das iniciais dos diferentes tipos de teste (Drop, Impact, Shock, Crush, Shake, ou seja, queda, impacto, choque, esmagamento, agitação). Este sistema patenteado permite comprovar se as embalagens são capazes de sobreviver aos impactos e riscos habituais de qualquer cadeia de fornecimento de e-commerce.

 

GC – Como pode o packaging ajudar a aumentar as vendas no e-commerce? Qual é o papel das soluções de packaging neste canal?

JO – Temos assistido a um crescimento exponencial das compras online. Segundo um estudo realizado pela DS Smith, o atual contexto de pandemia iniciou uma nova era no comportamento do consumidor, visto que a grande maioria, 89% dos europeus, planeia manter, ou até mesmo aumentar, os hábitos de compra online que adotou durante o confinamento. 

Este aumento obriga muitas empresas de e-commerce a adaptarem-se e a procurarem novos métodos para reduzirem a complexidade das suas cadeias de fornecimento, com o objetivo de obter uma maior eficiência. Para que consigam aumentar as vendas e a rentabilidade, é importante garantir que se utilizam soluções espalmáveis, que permitem colocar o maior número de unidades por palete, proporcionando uma otimização do espaço disponível para armazenamento ou da área de preparação de encomendas. 

Por outro lado, a adoção de uma variedade adequada de referências de packaging, soluções de altura variável ou embalagens envolventes ajudam a reduzir os espaços vazios, otimizando todo o processo de envio. 

As soluções de packaging devem, assim, utilizar apenas a quantidade de material necessária, proporcionando uma ótima experiência ao cliente e garantindo que haja menos material para ser reciclado ou descartado. 

Outro aspeto fundamental, para facilitar o processo de devolução ao cliente, é que o packaging inclua uma segunda fita adesiva, que irá garantir que os produtos estão protegidos na sua embalagem original durante o envio de retorno. Por último, e igualmente importante, deve-se ter em conta a expectativa do consumidor, recorrendo a soluções de embalagem inovadoras capazes de criar uma experiência de “unboxing” inesquecível. Afinal, a embalagem é uma oportunidade de prolongar a mensagem da marca até à casa do consumidor. 

 

GC – Um novo estudo da DS Smith revela que o aumento das compras online e do tempo passado em casa está a despoletar novos desafios em termos de reciclagem. Que desafios são estes e como podemos endereçá-los?

JO – De facto, um estudo que realizámos revelou a crise de reciclagem que se está a instalar em toda a Europa. O aumento das compras online e do tempo que passamos em casa fez com que os contentores transbordassem, tanto que 70% dos europeus afirma estar a ficar sem espaço nos seus contentores de reciclagem. 

No entanto, esta é apenas uma pequena parte do problema, pois a infraestrutura de reciclagem da União Europeia não está preparada para lidar com o aumento do volume de reciclagem doméstica, causado em parte pela Covid-19. 

Tendo em conta que as compras online vieram para ficar e o teletrabalho está a desempenhar um papel importante nas nossas vidas, devemos garantir que o nosso sistema de recolha nos permite reciclar material da melhor qualidade possível nas nossas casas. Não só é necessária uma infraestrutura de reciclagem que consiga responder ao aumento de material doméstico para reciclar, como também é vital que os consumidores tenham as informações necessárias para poder separar os materiais corretamente na origem.

 

GC – A facilidade da personalização do packaging é um fator fundamental para as marcas?

JO – Num mundo em constante mudança, onde as empresas competem todos os dias para atrair a atenção dos consumidores, e procuram formas de se diferenciarem das concorrentes, a personalização do packaging é cada vez mais determinante. 

Uma das ferramentas mais eficazes e versáteis para o conseguir é a impressão digital. Esta técnica permite obter soluções personalizadas, com uma alta qualidade de impressão, que ajudam a divulgar a mensagem e a imagem da marca, ao possibilitar a impressão, em função de campanhas ou épocas, “cross-selling” e ações promocionais, por exemplo, melhorando a experiência do cliente e acrescentando valor ao produto. Tem ainda a vantagem de reduzir tanto o tempo como os materiais de preparação necessários para a impressão, diminuindo, assim, os prazos de entrega das encomendas. 

Além disso, devido a esta redução dos prazos, são evitadas produções em excesso e a acumulação de stocks desnecessários para os clientes. E, face ao crescimento do e-commerce, torna-se também uma importante aliada para este sector, visto permitir uma melhor rastreabilidade, facilitando a impressão de códigos individuais em cada embalagem, como códigos QR.

Mas também ao nível estrutural, a personalização do packaging é importante. A escolha de uma embalagem feita à medida, em função de cada produto, permitirá gerar otimizações em toda a cadeia de fornecimento.

“O aumento das compras online e do tempo que passamos em casa fez com que os contentores transbordassem, tanto que 70% dos europeus afirma estar a ficar sem espaço nos seus contentores de reciclagem. No entanto, esta é apenas uma pequena parte do problema, pois a infraestrutura de reciclagem da União Europeia não está preparada para lidar com o aumento do volume de reciclagem doméstica, causado em parte pela Covid-19”

 

GC – Que passos tem dado a DS Smith no âmbito do packaging inteligente? Que valor acrescentado adiciona para as marcas e para os consumidores?

JO – Temos acompanhado de perto esta tendência e ajudado os nossos clientes a tirarem o maior partido dela. Acima de tudo, as soluções de packaging inteligente ajudam as marcas a responder à procura do consumidor por informações sobre os produtos, fornecendo, ao mesmo tempo, um novo canal através do qual as marcas podem contar as suas histórias. A embalagem pode, assim, ser utilizada como um meio de comunicação, através do qual as pessoas se conectam por meio de códigos QR, NFC (Near Field Communication – tecnologia sem fios de curto alcance) e AR (realidade aumentada). 

A procura de conectividade 24/7 e de experiências digitais personalizadas evoluiu, especialmente entre os consumidores mais jovens, permitindo-lhes conectarem-se com promoções e ofertas, histórias da marca ou dos produtos, entre outras informações adicionais. As embalagens tornaram-se, mais do que nunca, num ponto de partida para envolver os consumidores e interagir com eles.

 

GC – O que seria um bom ano de 2021 para a DS Smith?

JO – Um bom ano para a DS Smith está intimamente relacionado com o sucesso dos nossos clientes. De modo a ajudá-los a alcançar os seus objetivos, vamos manter o foco na inovação e no desenvolvimento de soluções de packaging sustentáveis, que proporcionem uma excelente experiência de compra, impulsionem a eficiência nas cadeias de fornecimento e contribuam para a proteção do ambiente. 

A certificação BRC Global Standard Packaging Materials, alcançada recentemente pela nossa fábrica de Lisboa, é mais um exemplo do nosso compromisso em assegurar aos clientes que as nossas soluções de embalagem respondem aos mais elevados padrões de segurança, higiene e qualidade, garantindo, particularmente, a segurança alimentar.

Vamos ainda proporcionar-lhes experiências únicas, através da implementação dos primeiros centros de Customer Experience no norte e sul do país, espaços físicos onde poderão trabalhar, em conjunto com os nossos especialistas em packaging, para explorar ideias e estarem envolvidos na criação da solução mais adequada para dar resposta aos seus desafios. 

Por fim, continuaremos a investir em maquinaria e investigação, no sentido de proporcionar uma maior e melhor oferta a todos os sectores de atividade.

Rui Mendonça, CEO Aviludo

“Continuaremos a criar relações fortes e duradouras, pois é algo que está no nosso ADN”

“A rentabilidade dos negócios condiciona o I&D do sector”