“O MercaChefe surgiu um pouco antes do tempo”

MercaChefe

Com uma vida dedicada ao comércio, Ricardo Wallis é o rosto visível associado ao MercaChefe. O marketplace que abriu portas com essa mesma marca comercial, em 2015, e detido pela Buyin.PT, empresa que chamou a si a responsabilidade de criar o primeiro e-marketplace B2B nacional para o canal Horeca e retalho alimentar. Uma ideia inovadora para o canal a que se dirige, que passou, assim, a ter uma plataforma eletrónica de compra e venda de produtos alimentares, bebidas e produtos não alimentares para profissionais. Mas que, em virtude da pandemia da Covid-19, passou a estar disponível também ao consumidor final, com resultados surpreendentes.

Assumindo-se, desde o seu arranque, como uma plataforma de comércio eletrónico grossista, cujo objetivo é desenvolver um modelo de mercado virtual equivalente ao dos mercados presenciais, ou seja, um B2B de alimentação de perecíveis, e com uma visão muito clara de ser “o marketplace virtual de alimentação da rede de grossistas”, o mercachefe.pt, decidiu, a título excecional, durante o período de pandemia, abrir os seus serviços a todos os particulares interessados. Uma forma solidária de poder ajudar a minimizar os eventuais problemas de abastecimento que pareceriam surgir no decorrer do mês de março, onde o açabarcamento registado nas lojas do retalho físico se apresentava como uma possível ameaça ao bem-estar comunitário.

Assim, e a partir de dia 18 de março, foi possível a qualquer consumidor proceder a compras online em mercachefe.pt, assegurando a plataforma, dentro dos stocks existentes, a recolha direta dos produtos junto dos respetivos fabricantes e a logística de transporte para casa dos interessados. Disponíveis para entrega estiveram, e ainda estão, todos os artigos essenciais que os consumidores portugueses precisam: produtos de limpeza, produtos alimentares e bebidas, descartáveis, frigoríficos ou arcas congeladoras para conservar os seus alimentos, entre outros, assegurando a plataforma a cobertura de Portugal Continental. “O Mercachefe, na verdade, é uma empresa de serviços. Temos a parte tecnológica, as parcerias (os preços são sempre preços de revenda e não ganhamos nada com a logística). Ainda não sabemos se, no futuro, vamos voltar exclusivamente ao modelo B2B”, responde antecipadamente à questão Ricardo Wallis, CEO da Buyin.PT.

A verdade que é o futuro se apresenta indefinido, sob vários prismas, e a recuperação do canal Horeca não será certa, como em outras atividades, pelo que se torna difícil fazer previsões. “Quanto a 2020 não esperamos nada. Não nos focamos em números, estes dependem do trabalho que fizermos, da credibilidade da marca. A marca tem de crescer sustentadamente, sem objetivos de números. Se não houver reclamações, ou se houver, mas forem devidamente tratadas, os compradores vão comprar porque têm uma ferramenta extraordinária, um excelente serviço pós-venda e marcas e produtos de qualidade a bons preços. O sucesso só pode ser garantido. Para isto acontecer, temos de nos focar no atendimento ao cliente a 100%”, assevera o fundador da MercaChefe.

 

O futuro é digital

Mas o caminho futuro será sempre, na perspetiva de Ricardo Wallis, por intermédio da digitalização, seja por venda “direct to consumer”, como nos sites de marca com opção de compra online, seja por via de marketplaces como o MercaChefe. Facto é que, desde o início desta pandemia, e em resposta aos múltiplos contactos recebidos de particulares para se registarem na plataforma, o marketplace sectorial passou a estar disponível também para usufruto do consumidor final. “Uma vez que tínhamos a plataforma tecnológica a trabalhar, com a logística a funcionar perfeitamente, uma equipa de pós-venda mais que treinada, decidimos que tínhamos que ajudar os compradores. Por outro lado, também começámos a ser contactados por muitas empresas desesperadas que precisavam de vender os seus produtos, muitos deles perecíveis, e não tinham modo de o fazer, porque os seus clientes estavam encerrados”.

Consequência imediata e visível das medidas de contenção colocadas em prática pelo Executivo e que levaram a que o MercaChefe, rapidamente, evoluísse de uma lógica operacional estritamente B2B para uma atuação B2C, mas sem descurar os critérios utilizados na adesão de novas empresas na plataforma que agora serve profissionais e consumidores. “Começámos a aceitar essas empresas que contactavam para poderem vender connosco, sem descurar o rigor no processo de integração de novos parceiros que sempre tivemos. Nomeadamente, dar-lhes a conhecer muito bem o modelo de negócio e assegurar que têm de ter stock, caso contrário, não podem vender no MercaChefe. Costumava dizer que, no fim de 2020, queríamos já ter bastantes vendas. Desde que abrimos o marketplace ao consumidor, houve um ‘boom’ impressionante. As vendas aumentaram mais de 100%. Estamos a fazer entregas todos os dias”.

 

Vantagem competitiva

Entre as vantagens competitivas deste modelo de negócio encontra-se o facto de operar sem stock próprio, o que faz com que nunca tenha rutura. “Pode acontecer o produtor não ter produto, mas, quando isso acontece, antes da venda, desativa-o, logo, não há rutura de stock”, detalha Ricardo Wallis.

E desde que começou a pandemia da Covid-19 o número de pequenas empresas aceites no MercaChefe também tem aumentado. Com distintos perfis comerciais e necessidades diversas, a verdade é que, se ainda “há dois anos, eramos nós que ‘corríamos’ atrás das empresas, a explicar o nosso modelo de negócio, de modo a que percebessem que podiam vender online de modo direto através de nós, de há um mês para cá, são as empresas que ‘correm’ atrás de nós para vender no MercaChefe. A logística é um dos principais aspetos na distribuição, seja de que modelo for. O comércio eletrónico é só mais uma maneira de fazer comércio”.

De forma simplificada, em suporte digital, com o processo de inscrição e compra no MercaChefe a ser simplificado, desde o registo, e respetiva comprovação de que se trata, efetivamente, de um comprador, ao processo de compra em si, onde, ao fazer uma determinada encomenda, o utilizador fica logo a saber qual o dia da entrega (dia seguinte mais um) e liquida a sua compra. “Imediatamente, o software envia uma nota de encomenda para cada empresa a quem o comprador comprou com a descrição dos produtos. No dia seguinte, a transportadora vai levantar os produtos aos produtores, que podem estar localizados em qualquer parte de Portugal. Durante a noite é feita consolidação. E, no dia seguinte, é entregue ao comprador. Quem compra na segunda-feira, recebe na quarta. Trabalhamos com, praticamente, todas as empresas de logística. Insistimos muito que não pode haver falhas nem na recolha nem na entrega. Cada empresa de logística tem uma pessoa que só trabalha a nossa conta”, detalha Ricardo Wallis.

 

Parceria com a SIMAB

Não obstante a evolução que o MercaChefe apresentou nas últimas semanas, com natural destaque para uma maior presença junto do consumidor final, etapa incontornável para a sua afirmação no seu, ainda, curto percurso no mercado foi a parceria estabelecida com a SIMAB, entidade que gere a rede nacional de mercados abastecedores, e a startup tecnológica Buyin.PT, detentora da MercaChefe. Contrato de parceria para a promoção do comércio eletrónico que se propõe a envolver todos os mercados geridos pela SIMAB e que permitiu a todos os operadores, nesses mesmos mercados, ter acesso privilegiado às plataformas eletrónicas propriedade da Buyin.PT: MercaChefe.pt e BuyinPortugal.pt (e-marketplace B2B de apoio às empresas exportadoras portuguesas).

Protocolo que tem como principais metas o incentivo ao comércio digital e reforço da cooperação económica e comercial entre as empresas portuguesas, que se revestiu de importância significativa para ambas as partes envolvidas. “A parceria com a SIMAB foi muito importante, para ambas as partes. São uma organização muito credível, com grandes operadores, com produtos que toda a gente compra. Para a SIMAB, também permitiu evoluir para um novo serviço de comércio. No futuro, os compradores deixarão de ter a necessidade de ir com as suas carrinhas carregar aos mercados abastecedores, porque podem fazer a sua compra online e esperar um dia ou dois pela entrega”.

E se, aquando da assinatura desse protocolo, há pouco mais de dois anos, a maior parte dos empresários não estava ainda vocacionada para vender online, hoje, a realidade é distinta. “O MercaChefe surgiu um pouco antes do tempo, quando falava de marketplace, poucos sabiam ao que me estava a referir. Hoje, as pessoas já sabem o que é. Mas, pelo facto de ter sido lançado quando foi, deu-nos a possibilidade de ajustar, ouvir as pessoas e ir adaptando. Hoje, são muitas as empresas que vendem no MercaChefe, desde as grandes e detentoras de marcas reconhecidas, aos pequenos produtores de vinhos e frutas e legumes, por exemplo. Agora vão entrar várias empresas produtoras e distribuidoras de flores e estamos a negociar com empresas abastecedoras dos mercados de peixe do mar. Somos a maior loja de eletrodomésticos da Whirlpool, por exemplo, porque temos todo o seu catálogo para venda”, assume Ricardo Wallis.

 

Especialização

O que valida o papel e utilidade da plataforma sectorial especializada que não quer, ou queria, ser mais do que o que se propôs a ser desde o início: uma plataforma sectorial, dedicada, onde o objetivo é vender tudo o que faça sentido dentro do canal Horeca e do retalho alimentar. “O MercaChefe faz todo o sentido. Especializou-se só neste sector. Não quer vender roupas nem sapatos, a não ser que estejam relacionados com o sector. Nem as empresas nem os consumidores podem fugir ao comércio online. O comércio foi mudando. Há 50 anos, ia-se à Baixa de Lisboa, depois passou-se a ir às Avenidas Novas, depois aos centros comerciais, depois aos hipermercados e, agora, o comércio online começa a ‘roubar’ os compradores”, conclui.

Resta saber que caminhos futuros o “novo normal” poderá trazer às atividades comerciais que tiveram capacidade de reagir e se adaptar a tempos de emergência e exceção.

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