“Falar de vinho verde é, realmente, falar de diferenciação”

Dora Simões, presidente, Óscar Meireles (direita), vogal (comércio), e Rui Pinto, vogal (produção), compõem a direção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos
Dora Simões, presidente, Óscar Meireles (direita), vogal (comércio), e Rui Pinto, vogal (produção), compõem a direção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos

Dora Simões, presidente, Óscar Meireles, vogal (comércio), e Rui Pinto, vogal (produção), compõem a recém-nomeada direção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, tendo sob a sua alçada a gestão corrente do organismo. Dora Simões sucede a Manuel Pinheiro, que presidiu a comissão ao longo de mais de duas décadas. Uma nova etapa na vida da CVRVV, que coincide com um conjunto alargado de desafios e de oportunidades. Desde o aumento do custo das matérias-primas, ao imperativo da sustentabilidade, passando pelas novas oportunidades que se apresentam a esta região de atributos únicos no mundo vínico, com esta direção a ter como principal compromisso demonstrar que a viticultura é um negócio rentável.

 

Grande Consumo – A Dora assumiu a presidência da direção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) para o triénio 2022-2024, após 22 anos da presidência por um outro nome igualmente bem conhecido deste universo, Manuel Pinheiro. Como foi para si ser nomeada para esta direção e com que expectativas encara os desafios futuros? Foi o desafio certo na altura certa da sua carreira?

Dora Simões – Traz uma enorme responsabilidade. Há muito trabalho feito nas últimas décadas. Na verdade, o Manuel Pinheiro fez muito trabalho, deixando-nos uma região que está em expansão. Vê-se que estes vinhos têm também um grande interesse no futuro. Parte-se de uma base bastante boa.

Vivemos uma época em que os vinhos brancos têm interesse mundial. Estamos, digamos, numa fase virtuosa pelas tendências de consumo e por aquilo que a região tem, mas não tão virtuosa economicamente. É, de facto, um projeto que me dá imenso entusiasmo, assim como o facto de poder trabalhar com os meus dois colegas da direção.

 

GC – O facto de ser a primeira mulher a assumir a presidência numa comissão que representa uma região com mais de 100 anos em funcionamento traz, de alguma forma, alguma pressão adicional? Ou é somente mais uma etapa na sua carreira profissional? Afinal, sempre se assumiu como uma mulher do mundo do vinho…

DSPenso que não sei fazer mais nada a não ser trabalhar no vinho. Na verdade, quase toda a minha carreira foi dedicada a trabalhar no vinho. Dá-me muita satisfação poder continuar a trabalhar e a ter funções que são muito desafiantes. Quando se está a falar de 16 mil viticultores e mais de 300 empresas produtoras de vinho de uma região que celebra, agora, 114 anos, há uma responsabilidade muito grande. Nomeadamente, a de conhecer o que cá existe, não que seja alheia a isso, uma vez que tenho tido sempre o meu olho aqui no norte – eu sou Porto e, desde os últimos dois anos, que vivo outra vez no Porto. Também por isso, é uma satisfação grande trabalhar uma região que me diz muito, e na qual tenho família, e isso é importante, porque também ajuda a identificar com a própria região e as suas pessoas. Uma carreira é feita de etapas e de momentos que, às vezes, vêm na altura certa.

 

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GC – A Dora tem ao seu lado os dois vogais da direção que a apoiam na gestão corrente da CVRVV. Qual é o grande compromisso desta direção para com os seus associados e com a região?

Óscar MeirelesAceitei este segundo mandato para dar seguimento àquilo a que nos tínhamos proposto aquando do primeiro. Há que dar continuidade ao trabalho que foi feito e há muito mais para fazer. Há situações de abertura e de olhares diferentes em termos de futuro.

Neste momento, temos um grande desafio pela frente, atendendo à conjuntura económica e internacional. A minha missão na CVRVV é servir. Assumimos o compromisso de reforçar a valorização do vinho verde, sem esquecer uma responsabilidade em termos sociais. Há que gerar riqueza para a região e contribuir com o melhor que for possível para todos os nossos viticultores.

 

GC – Também é assim na produção, Rui?

Rui PintoFoi um reconhecimento dos nossos parceiros da produção em reconduzirem para mais este mandato. Viram que seria bom para a direção ter dois elementos do passado que pudessem ajudar a presidente nos desafios e a dar continuidade ao que vinha sendo feito, apostando numa transição suave e sem sobressaltos, não obstante saibamos que a presidente tem um conhecimento profundo seja em viticultura, seja em comércio e mercados.

Em termos dos compromissos, temos alguns do passado e muitos desafios novos que poderão advir e temos de estar à altura para os resolver e dar uma resposta satisfatória a todos os viticultores e a todos os agentes económicos da região.

 

“O vinho verde não é só um tipo de vinho especificamente e penso que é exatamente nessa área que temos de trabalhar, apresentar a diferenciação do vinho verde como categoria, explicá-lo, levá-lo a mais público, mostrando que há vinhos verdes que têm características mais tradicionais, como todos o reconhecem, mas também há outros vinhos verdes que podem envelhecer um bocadinho mais ou os novos tintos que também estão a ser produzidos”

 

GC – Falar de vinho verde é falar de diferenciação dos seus vinhos e respetivos produtores? Como é que a região é percecionada, em termos do mercado doméstico e externo? É uma região que esgota o seu prestígio e notoriedade no mercado interno, ou os mais de 100 mercados externos onde se faz representar dizem bem da sua abrangência enquanto produto de base agroalimentar?

DSFalar de vinho verde é, realmente, falar de diferenciação. Portugal tem um conjunto de vinhos que são bem diferenciados, mas o vinho verde, pelas suas características, é de facto um vinho muito diferenciado, muito especial, o que também pode gerar algumas opiniões polarizadoras. Ou se gosta bastante ou não se gosta.

No entanto, o vinho verde não é só um tipo de vinho especificamente e penso que é exatamente nessa área que temos de trabalhar, apresentar a diferenciação do vinho verde como categoria, explicá-lo, levá-lo a mais público, mostrando que há vinhos verdes que têm características mais tradicionais, como todos o reconhecem, mas também há outros vinhos verdes que podem envelhecer um bocadinho mais ou os novos tintos que também estão a ser produzidos.

Portanto, há uma diversidade de propostas que podem ser apresentadas e é aí que temos de tirar partido das tendências de consumo, nacionais e internacionais, que mostram que, de facto, os vinhos brancos, em primeiro lugar, estão a ter um momento alto. Quando se olha para as estatísticas, vê-se que o consumo de vinhos brancos está a aumentar, o que tem a ver também com a melhor qualidade de vinhos brancos que estão a ser produzidos não só em Portugal, mas também no resto do mundo. Depois, há características no vinho verde que podem ser capitalizadas, relacionadas com o enorme interesse por castas autóctones, por vinhos com uma boa acidez e equilibrados em termos de acidez e açúcar. Pelo que temos de saber navegar esta onda, aproveitá-la, pensar no que queremos fazer, mas também ser rápidos a atuar, para não a perder para outras regiões do mundo que também têm vinhos com estas características. Temos de ser relativamente rápidos a fazer este exercício de trabalhar a exportação, a comercialização e a imagem dos vinhos verdes, neste momento.

O próximo passo é criar as segmentações necessárias, ao nível do produto, para que possa ser comercializado e para que possa ser consistentemente comunicado. Temos de arranjar os argumentos certos para a segmentação. Vamos definir e trabalhar, de uma forma mais duradoura, para que persista, porque o vinho é altamente competitivo. Temos de estar seguros de que aquilo que vamos trabalhar vai perdurar, para que possa entrar no topo da escolha de quem está a retirar uma garrafa da prateleira para levar para casa.

 

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“Temos de fazer acreditar todos os interessados que a viticultura é um negócio rentável” destaca Rui Pinto, vogal com o pelouro da produção na CVRVV

 

GC – Vivemos um ano de muitas incertezas, a nível social, económico e ambiental. Como é que está a decorrer a vindima deste ano? A uva está a sair boa? Houve quebra de produção?

RPA nossa região é muito grande. Temos seis distritos – Porto, Braga, Viana, Vila Real, Aveiro e Viseu -, o que se traduz numa região muito heterogénea, em termos de produção. São 48 os concelhos que que abrangem a nossa região e alguns são influenciados pelo Atlântico. Outros, mais no interior e a sul, têm influências continentais. Até nisso, em termos de castas, a nossa região é diversificada.

Começámos a vindima no dia 16 de agosto e prolongou-se até 15 de outubro. Foram dois meses de uma vindima boa. A sub-região de Monção e Melgaço, por exemplo, teve uma produção sensivelmente semelhante à do ano passado.

Estávamos renitentes, em termos de produção, e com algum receio por causa das várias ondas de calor que sofremos, este ano. O que é certo é que os viticultores, até há quatro ou cinco anos, faziam podas verdes para amadurecer a uva. Nos últimos anos, face às influências climáticas, deixam mais folhas na videira, não só para continuar o seu ciclo vegetativo, como também para proteger os cachos dos golpes de calor.

Quando fomos dar conta, apercebemos de que a uva era abundante nas nossas cepas. Isso deu-nos, mais para o final da campanha, a noção de que seria boa, com uma produção superior à do ano passado e muito parecida com a de 2017. Os três dias de chuva no início de setembro, para quem não tinha ainda vindimado, vieram dar também algum “apport” em termos de quantidade. Foi abundante a água e permitiu que a videira pudesse absorver alguma que já estivesse infiltrada no solo e, depois, recuperar em termos do volume do cacho.

A nível da qualidade, pode ser um ano de excelência. Nem tudo foi mau para o viticultor. Em termos de sanidade, foi um ano muito bom. Como não houve muita incidência de doenças, a uva está muito boa.

 

GC – Vivemos, igualmente, tempos onde a escassez de matérias-primas é um problema transversal à atividade económica. Quais são os principais desafios e, igualmente, os principais entraves à comercialização do vinho verde? Afinal, é preciso colocar o vinho no mercado…

OMEssa é uma realidade com que temos de lidar, com capacidade para nos reinventar, de modo a ultrapassar todas estas dificuldades. A 1 de outubro, o vidro aumentou mais 20%, com tendência para subir trimestre a trimestre, o que é um transtorno e começa a ser insustentável.

Neste momento, a própria direção da CVRVV está a tentar ter algumas reuniões com os vidreiros, para perceber, em primeiro lugar, o que se está a passar, porque o negócio do vidro tem de ser encarado em termos ibéricos. Sabemos que as grandes fábricas de vidro na Ucrânia não estão a abastecer o mercado europeu. Mas, quando chegamos ao ponto em que a embalagem custa mais do que o produto em si, algo está mal. A cadeia tem de ser sustentável.

Há uma preocupação em assegurar o futuro do vinho verde. Vamos iniciar também algumas conversações com algumas associações, a nível nacional, para tentar travar a inflação que está a refletir-se no vidro. Temos a missão de valorizar o vinho verde, mas tem de haver condições para isso.

 

“Há uma diversidade de propostas que podem ser apresentadas e é exatamente aí que temos de tirar partido das tendências de consumo, nacionais e internacionais, que mostram que, de facto, os vinhos brancos, em primeiro lugar, estão a ter um momento alto. Quando se olha para as estatísticas, vê-se que o consumo de vinhos brancos está a aumentar, o que tem a ver também com a melhor qualidade de vinhos brancos que estão a ser produzidos não só em Portugal, mas também no resto do mundo”

 

GC – O preço e o custo são dois temas sempre difíceis de dirimir, aquando da colocação de um produto no mercado. O vinho não é uma exceção, estamos em crer. É possível elevar o PVP médio por litro do vinho verde? Como é que se pode valorizar, ainda mais, a região e os seus produtores? Qual é a estratégia de preços a seguir?

OMPerdemos muitas horas a falar nisso internamente. Temos de nos organizar e valorizar mais o litro de vinho, seja para o viticultor, seja em toda a cadeia de distribuição. Há condições para aumentar esta valorização em alguns nichos de vinhos. Hoje, temos uma panóplia muito grande em termos de segmentos de vinho, desde os mais simples, ou de entrada, aos premium, de guarda, nicho que está a crescer muito. Não é por acaso que o encepamento maior que existe hoje na região é o Loureiro e que temos já colegas que engarrafam só esta casta para guarda. Temos de aumentar os preços.

 

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“Há uma preocupação em assegurar o futuro do vinho verde” considera Óscar Meireles, vogal com o pelouro do comércio na CVRVV

 

GC – Temos consciência da valorização progressiva da uva na região, que, por sua vez, paga um dos preços mais altos a nível nacional, onde a casta Alvarinho é um desses bons exemplos. Que estratégia se pretende para a subida do preço médio da uva? É possível aumentar o preço médio sem aumentar os preços dos vinhos ao consumidor final?

RPNão é fácil. Aliás, um dos grandes compromissos que temos é o de captar e fixar os viticultores. Sem estes não há vinho. Temos de fazer acreditar todos os interessados que a viticultura é um negócio rentável.

Também sabemos que a tipologia de pessoas que estão a investir no sector dos vinhos, hoje, é um pouco diferente do que era há 15 ou 20 anos. São pessoas que fazem contas, que têm uma folha de Excel onde põem entradas e saídas de receitas e de despesas. Temos de conseguir que essas pessoas invistam e se instalem na região e na viticultura.

Estamos a fazer um esforço para que o viticultor receba sempre um pouco mais nas campanhas. Subir um ou dois cêntimos é muito reduzido, mas também sabemos que, ao fazê-lo, temos de subir mais 10 ou 15 cêntimos na garrafa. É um desafio complexo e, atendendo a que nos próximos anos se espera que haja algumas dificuldades económicas, estar a subir preços em prateleira pode travar o consumo.

Mas temos consciência que, desde o início da guerra, os fertilizantes aumentaram mais 108%, os herbicidas mais 176%, os fitofármacos mais 12% e os combustíveis mais 89%. Um viticultor com uma área média de três hectares teve um acréscimo de custos de mais 1.300 euros para fazer face às despesas da vinha.

Temos sempre de dar sinais positivos de valorização da uva, se queremos ter viticultores a instalarem-se na região. Também é certo que temos de trabalhar muito a montante, já que há viticultores que cometem alguns erros de estratégia. Para compensar os acréscimos de custos que estão a sofrer no dia-a-dia, terão de ser mais eficientes em termos da sua exploração. Há muito trabalho a fazer dentro de portas.

 

GC – Aquando da tomada de posse, falou de oportunidades que o vinho verde não pode perder. As palavras são suas, Dora. Qual é a perspetiva de futuro para os vinhos verdes? Que oportunidades são estas? Afinal, o contexto vivido em várias vertentes não é nada abonatório…

DSAs oportunidades existem. Temos de as saber identificar e trabalhar para ir ao encontro das mesmas. Identificar é muito importante, porque não podemos estar a trabalhar em todas as áreas.

Mas também é preciso ver que a CVRVV não vende uma garrafa de vinho. A CVRVV tem de, em conjunto com os membros do seu conselho geral, ouvir os produtores, perceber quais são as oportunidades de mercado e o que as empresas pretendem fazer. E, com base nestas duas ideias, definir a estratégia e prossegui-la.

É importante que não se perca de vista que a CVRVV, para além de toda esta função de orientação estratégica e de onde vai aplicar o dinheiro que está destinado à promoção do vinho verde, também tem uma função fornecedora de serviços aos seus produtores na área da certificação. Também aqui, a CVRVV vai ter de pensar como é que vai trabalhar melhor para os seus próprios produtores, tornando uma série de serviços ainda mais eficientes, pondo os olhos no futuro. Há também as orientações estratégicas, ao nível dos programas que se podem estabelecer nas áreas da formação, da sustentabilidade, das orientações da agenda de investigação e desenvolvimento para o sector do vinho verde, que é muito específica e não tem as mesmas necessidades de outras regiões.

Temos de nos reorganizar, tendo em vista o que se perspetiva que possa vir a acontecer e a expectável contração no consumo. Os mercados que antes nos compravam muito passarão, possivelmente, a comprar menos se não atuarmos com eficiência. Ter-se-á de alargar o número de mercados a atuar, até para esbater um pouco o prejuízo que se possa vir ter. Temos de pensar em todas estas frentes, na eficiência na vinha e nas adegas, no que é necessário estudar para estarmos aptos a trabalhar bem e no que queremos para o futuro. Essa deve ser a nossa estratégia para o próximo mandato.

 

GC – Ao nível da sustentabilidade, como se podem transformar os processos produtivos na região? Quais são os objetivos a atingir a médio prazo?

DSA sustentabilidade já nos parece uma palavra um bocado gasta e tem sido utilizada de forma incorreta, ao ponto de a vulgarizar. A verdade é que os princípios que regem a sustentabilidade têm de ser sérios e dentro de uma estratégia pensada para uma região, na viticultura, na adega e no próprio packaging, uma vez que os custos estão tão elevados que nos obrigam a encontrar eficiências ao longo de toda a cadeia de valor.

Penso que a Região dos Vinhos Verdes é diferente de outras regiões, tem necessidades próprias e que, para se tornar competitiva, deve ter estratégias aplicadas. Haverá uma série de aspetos que são transversais ao sector do vinho, que facilmente são absorvidos, mas há outros que não são. Aliando à ciência – e quando falo de ciência falo de viticultura, de castas autóctones que têm de ser estudadas, de perfis de vinhos -, tudo o que é interessante para nós tem de ser visto sob a égide da sustentabilidade. Só assim se pode pensar manter um património de castas e, até mesmo, de métodos de produção. A sustentabilidade deve ser uma filosofia de gestão.

 

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Dora Simões, presidente da direção da CVRVV, destaca o potencial de evolução e crescimento da Região dos Vinhos Verdes ainda não foi totalmente atingido

 

GC – As alterações das condições climatéricas e os respetivos impactos na produção são evidentes. O que faz com que a sustentabilidade seja mais uma variável para gerir no âmbito produtivo e da formação do preço?

OMDigo a todos os meus colegas que a sustentabilidade é recompensada. Pode, à primeira vista, parecer que há um custo, mas é, na verdade, um investimento que acaba por ser rentabilizado. Isso já está incutido na fileira do vinho. Há regiões mais adiantadas, mas a dos vinhos verdes também está nesse caminho. Valorizamos o produto quando apostamos nas práticas sustentáveis.

 

GC – O seguro coletivo de colheitas tornou-se uma situação obrigatória face às alterações climáticas? É um aspeto valorizado pelos produtores?

RPA Região dos Vinhos Verdes orgulha-se de ser, em termos vitícolas, a que tem o seguro de colheitas há mais tempo. Há mais de duas décadas que temos um seguro que abrange os 16 mil viticultores e 15 mil hectares de área de vinha.

Há cerca de 20 anos, a participação de sinistros era basicamente relacionada com a geada. Estamos a ver, agora, uma alteração das participações que indica que as alterações climáticas estão a acontecer: incêndios, raios, tornados, insolações, ondas de calor… Tivemos tipologias de participação de todo o género.

Fazemos um seguro de colheitas para todos. A comissão assegura um preço base e, depois, se o viticultor quiser aumentar, pode fazê-lo. É uma ferramenta ao alcance do viticultor, face às alterações e aos eventos cada vez mais díspares que acontecem na região.

 

“Estamos a fazer um esforço para que o viticultor receba sempre um pouco mais nas campanhas. Subir um ou dois cêntimos é muito reduzido, mas também sabemos que, ao fazê-lo, temos de subir mais 10 ou 15 cêntimos na garrafa. É um desafio complexo e, atendendo a que nos próximos anos se espera que haja algumas dificuldades económicas, estar a subir preços em prateleira pode travar o consumo”

 

GC – A denominação vinho verde, como uma marca global, já atingiu o seu pleno potencial? Valorizar essa mesma denominação é valorizar a compra de uva e os respetivos néctares que dela resultam?

DSPenso que ainda não atingiu todo o seu potencial. Há uma homogeneidade do que é a compreensão do vinho verde, mas ainda tem muito para mostrar, não só em Portugal, mas também internacionalmente, onde o vinho verde está muito alavancado na categoria clássica. Os melhores sommeliers do mundo estão à procura de vinhos com castas autóctones, com boa acidez, terroir e autenticidade, que não encontram de uma forma generalizada em regiões que têm uma produção não tão especializada como a dos vinhos verdes. Há muito por explorar ainda, para levar mais longe a categoria e conseguir comunicar.

 

GC – Como se trabalham sob a mesma umbrela perfis organoléticos tão distintos?

DSEssa diversidade é o que traz riqueza à região. Ao contrário de outras regiões em Portugal, embora se venda muito vinho de lote, a comunicação desta região está, de algum modo, facilitada, porque também se trabalham muito os varietais. É mais fácil comunicar as características da casta do que, às vezes, o lote inteiro.

Essa diversidade também existe nos tintos. O facto de, quando pensamos no vinho verde, muitas vezes, só pensarmos no branco, não quer dizer que a região seja só isso. Estamos numa fase em que os tintos com elegância também têm lugar. Os perfis de vinhos que agora interessam são muito coincidentes com o do vinho verde.

 

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GC – As exportações são o principal canal para os vinhos verdes continuarem a crescer? Ou no mercado doméstico também pode reforçar a sua posição?

DSA exportação é absolutamente necessária para que os vinhos possam ser vendidos em mercados sofisticados, onde se possa vender com valor acrescentado. Claro que o mercado nacional é sempre importante e também tem uma componente de visitantes internacionais. Há uma emoção ligada a essa visita que faz a diferença no ponto de venda. Quem nos visita e prova os nossos vinhos, se os encontrar nos seus mercados, vai repetir a compra.

O principal mercado de vinho verde são os Estados Unidos da América. A Alemanha também é importante, assim como o Canadá e o Brasil. São mercados onde o vinho verde pode crescer muito.

Os varietais, aqui, são importantes e é fundamental que ganhem maior percentagem de vendas face ao clássico vinho verde.

 

GC – Um desejo ou uma ambição para o que resta de 2022…

RPA ambição é a de termos bons vinhos. O ano foi muito bom, em termos de uva, e espero que tenhamos bons vinhos para promover e divulgar. O desejo é que chova muito neste outono. O viticultor precisa de água.

OMDesejo que as famílias tenham condições, em termos económicos, para manter a dieta mediterrânica, acompanhando o vinho às refeições.

DSConcluo com o desejo de cada um dos colegas: que a chuva caia bastante neste inverno e, depois, que se continue a intensificar o consumo de vinho, não obstante a crise que se avizinha.

 

Este artigo foi publicado na edição N.º 77 da Grande Consumo

 

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