“Comer melhor, consumir melhor é, agora, muito mais do que o slogan de marketing”

Rui Assis
Rui Assis, diretor geral da Equanto

O posicionamento biológico é uma tendência crescente, há vários anos, e os últimos cinco não foram exceção. De acordo com os dados da consultora Mintel, em 2020, mais de 10% de todos os produtos de alimentação e bebidas lançados no mercado de retalho mundial estava posicionado como biológico. Em Portugal, ainda estes produtos não estavam em voga, já a Equanto seguia este caminho. Obcecada pela segurança alimentar, procura concretizar aquela que é a sua missão, enquanto empresa, a de democratizar o consumo da alimentação saudável. Rui Assis, diretor geral da Equanto, aborda de que modo é através daquele que é o seu património, as suas marcas, e reforçando a sua presença em todas as faixas etárias e momentos de consumo, que a empresa se encontra a perseguir essa missão de afirmação da alimentação como aliada na prevenção de doenças.

 

Grande Consumo – Encontra-se a caminhar para o segundo ano à frente dos destinos da Equanto. O que o levou, então, a assumir o cargo e que balanço pode fazer do período decorrido?

Rui Assis – Após 30 anos a liderar equipas de alto rendimento, em grandes empresas de distribuição, seja nas operações como nas compras, entendi que era o momento de me desafiar, conhecendo a realidade da indústria.

O projeto da Equanto, PME familiar com capital 100% português, é único, porque reúne todas as variáveis que um gestor experiente pode encontrar para ajudar a desenvolver e que permite ter uma visão estratégica abrangente. É um projeto moderno, pois tem como premissas a sustentabilidade, quer por ser uma empresa verde ou pelo “core” do próprio negócio, baseado em produção de produtos biológicos.

A agricultura biológica é o instrumento central no novo sistema alimentar definido no Pacto Ecológico Europeu, apresentado pela Comissão Europeia, visando a promoção da transição para sistemas alimentares sustentáveis, saudáveis e inclusivos. A marca Origens Bio distingue-se por este propósito, o qual define a sua identidade. Nesse sentido, provocamos e apoiamos os produtores portugueses, incentivando-os a investir na agricultura sem pesticidas (biológica), partilhando as nossas necessidades para os confortar.

Nesta era digital, assumimos a caminhada para a modernização e a importância da economia 4.0, com novos sistemas de informação. As recentes soluções tecnológicas permitem-nos construir um novo paradigma de produção industrial.

A Equanto é uma empresa de inovação e reúne uma equipa multidisciplinar e comprometida. Criamos internamente todos os passos de formulação dos nossos produtos com os nossos nutricionistas (I&D), “sourcing” das matérias-primas adequadas e pioneiras, experiência industrial, teste de qualidade e design gráfico. Conquistámos seis prémios de inovação, em 2020, e, em 2021, já conquistámos mais dois prémios num segmento novo (Kids), rico nutricionalmente (Nutriscore A).

Em jeito de balanço, temos uma revolução em curso, em prol da missão da empresa: democratizar o consumo da alimentação saudável.

 

GC – A Equanto seguiu um caminho pioneiro, ao entrar nestes produtos quando os mesmos ainda não estavam em voga. Anos volvidos, e dentro do que possa comentar nesse sentido, este apresentou-se como o caminho certo? A Equanto é, hoje, uma empresa líder junto de todos aqueles que procuram este tipo de alimentação?

RA – A Equanto foi pioneira na distribuição e produção própria de alimentos biológicos e vegetarianos em Portugal. A visão e resiliência do fundador da empresa, António Reis, há mais de 20 anos, foi fundamental. A empresa percorreu o seu caminho em matéria de consciencialização e transformação dos hábitos de consumo. Hoje, vivemos numa época em que, em alguns países desenvolvidos, nove em cada 10 habitantes consomem produtos biológicos.

omer melhor, consumir melhor é, agora, muito mais do que o slogan de marketing. O consumo responsável é, hoje, um modo de consumo que leva em conta os critérios do desenvolvimento sustentável: consumo que respeita o meio ambiente, é benéfico para a economia, especialmente local, bom para a saúde e positivo para a sociedade.

A Equanto e a sua marca principal – Origens Bio –, cujos valores contemplam a melhoria contínua e a excelência das fórmulas nutricionais, assumem que têm um papel relevante na educação do consumo e uma responsabilidade acrescida por sermos uma agroindústria 100% nacional.

 

“Enquanto património da empresa, é com as marcas que materializamos a missão de democratizar o consumo da alimentação saudável, sem pesticidas e promotora da biodiversidade. Acreditamos que a forma de o fazer é estar presentes em todas faixas etárias e momentos de consumo. Assim, criamos ambições diferentes para cada marca e caminhos táticos para cumprir a estratégia”

 

GC – Que marcas compõem o portfólio? As mesmas deixam-no satisfeito ou pretendem reforçar a oferta disponível?

RA – Enquanto património da empresa, é com as marcas que materializamos a missão de democratizar o consumo da alimentação saudável, sem pesticidas e promotora da biodiversidade. Acreditamos que a forma de o fazer é estar presentes em todas faixas etárias e momentos de consumo.

Assim, criamos ambições diferentes para cada marca e caminhos táticos para cumprir a estratégia. A marca Origens Bio (biológica) é transversal a várias categorias, representa a excelência nutricional e está na vanguarda do “procurement” de matérias-primas. A marca Veggis tem uma definição “plant based” e destina-se ao consumidor vegetariano ou flexitariano que pretende reduzir o (ou é intolerante ao) consumo de carne ou peixe, mas que exige uma boa experiência de consumo, ou seja, sabor. Esta marca já ganhou vários prémios Sabor do Ano.

Para conseguirmos estar em vários momentos de consumo, representamos várias marcas, alinhadas com a nossa visão, que nos permitem chegar a categorias onde ainda não temos tecnologia própria, por exemplo, iogurtes (marca Pur Natur), bebidas vegetais, gelados e iogurtes “plant based” (marca Joya).

Mais que reforçar o nosso portfólio, queremos conquistar a confiança dos nossos clientes: consumidores e retalhistas. A segurança alimentar é a nossa obsessão e a comprová-lo está um caminho percorrido, superior a um ano, para obter a certificação IFS, que colocará as marcas fabricadas na Equanto ao nível das melhores do mundo, pois constituirá uma verdadeira garantia de qualidade que reforçará o nosso desígnio enquanto produtores nacionais.

 

GC – A Origens Bio é a marca estrela da empresa?

RA – Os nossos produtos são as estrelas, as marcas são o nome, a materialização da filosofia que identifica e comunica os termos da ambição da empresa para esse produto e o caminho que essas estrelas devem percorrer.

 

GC – As diferentes marcas comercializadas e representadas não se canibalizam entre si? O consumidor percebe as diferenças existentes e os diferentes posicionamentos das mesmas?

RA – Cada marca tem um objetivo estratégico a cumprir, para nos conseguirmos posicionar em todas as necessidades de consumo. A marca Seitz, por exemplo, que representamos com todo o carinho, tem um posicionamento exclusivamente sem glúten. Cumpre uma necessidade específica. Destina-se a um tipo de consumidor intolerante e muito sensível, que exige confiança total na marca. Por isso, procurámos uma empresa com uma vasta experiência na Europa, que cumprisse todos os requisitos e que nos ajudasse a satisfazer esta necessidade numa gama variada de produtos.

 

GC – Ser biológico representa, necessariamente, ser mais caro? Os consumidores estão disponíveis para pagar o valor acrescentado trazido por estes produtos?

RA – De facto, trata-se de produtos de valor acrescentado. A grande reflexão passa por considerarmos quanto queremos gastar nas farmácias ou nos médicos. Qual a quantidade de pesticidas que ingerimos nos produtos, durante a nossa existência? A alimentação tem que ser uma aliada na prevenção de doenças e não o contrário.

Mas o valor acrescentado destes produtos não reside apenas na dieta livre de pesticidas ou no nosso bem mais precioso: a saúde. Como referido no início, o planeta necessita de um sistema alimentar sustentável, ou seja, o planeta também beneficia imenso com a agricultura biológica, que reduz absolutamente o impacto ambiental.

O sistema alimentar vigente assenta na agricultura convencional, que resulta num problema de escala da agricultura biológica. Em Portugal, ainda são raros os casos de produção de alimentos biológicos, o que implica importar a maioria das matérias-primas necessárias para a produção e transformação de produtos, o que torna a operação muito mais cara.

Estamos a fazer um trabalho com os produtores para os incentivar a apostar na agricultura biológica. Há uma oportunidade clara para a produção portuguesa estar alinhada com a Europa e acredito que esta realidade se transformará, em breve, e que poderemos, realmente, atingir a nossa missão de democratizar o consumo dos produtos biológicos. Deve ser uma exigência de todos os intervenientes na cadeia de valor. Mas admito que é um processo lento.

Tratando-se de um tipo de produtos com benefícios claros para a saúde e para o ambiente, devem existir medidas políticas de incentivo. A primeira medida que se sugere é a diminuição da taxa do imposto sobre consumo. Esta medida tornaria a categoria mais atrativa do ponto de vista de consumo, para que a produção agrícola tivesse mais motivação em apostar, por consequência.

 

GC – Apesar de existirem cadeias especializadas na comercialização destes produtos em Portugal, as marcas Equanto fazem-se representar no retalho organizado, na maioria das cadeias presentes no país. É pela distribuição numérica que passa a democratização do consumo destes produtos? Além dos benefícios a si associados, tem que se promover o acesso aos mesmos?

RA – De facto, nascemos na conveniência e eficiência das grandes cadeias de retalhistas, que nos honram com a presença das nossas marcas nas suas lojas e permitem milhões de contactos com o consumidor.

Em 2019, investimos numa rede comercial de escala nacional, onde pretendemos atingir todas as tipologias de comércio, desde o especialista ao tradicional e local, até ao restaurante. Tentamos, assim, responder pragmaticamente à necessidade de chegar a todos os habitantes e consumidores.

 

GC – Paralelamente a isso, a existência de uma loja online apresenta-se como um canal alternativo de comercialização. É algo que uma empresa moderna tem que ter para, mais rapidamente, chegar aos seus consumidores? Qual o papel do retalho físico na era da progressão célere do comércio eletrónico?

RA – O grande desafio será o de estar onde o consumidor está. Isso só será possível com uma estratégia omnipresente em todos os canais de consumo. A Equanto reforçou a sua operação comercial online, que se tornou fundamental neste contexto, mas também recrutámos um diretor comercial para nos ajudar a chegar a mais mercados e, sobretudo, prestar um melhor serviço aos nossos clientes do retalho organizado (lojas físicas).

Vivemos uma realidade complexa, mas acreditamos no envolvimento emocional das nossas marcas com o consumidor, pois tentamos garantir uma boa experiência de consumo. A loja física deve ser inovadora para marcar a diferença e legitimar a imagem de cada retalhista. Apostar em produtos biológicos é uma tendência a valorizar. O digital pode e deve conviver com a loja física, proporcionando experiências de compra únicas “in store”, criando uma harmonia entre cliente, loja física, produtor, marca e online. O digital permite a partilha de informação, que vai ensinar o consumidor a utilizar os produtos e a perceber quais os benefícios que pode tirar de cada um deles. Queremos que os consumidores tenham acesso a alimentos saudáveis, mas também a informação credível que os eduque e elucide sobre o que é uma alimentação mais saudável. 

 

“A grande reflexão passa por considerarmos quanto queremos gastar nas farmácias ou nos médicos. Qual a quantidade de pesticidas que ingerimos nos produtos, durante a nossa existência? A alimentação tem que ser uma aliada na prevenção de doenças e não o contrário. Mas o valor acrescentado destes produtos não reside apenas na dieta livre de pesticidas ou no nosso bem mais precioso: a saúde. O planeta necessita de um sistema alimentar sustentável, ou seja, o planeta também beneficia imenso com a agricultura biológica”

GC – Também a pandemia de Covid-19 veio potenciar a mudança de paradigma que já se registava antes deste advento, que ainda não faz parte da memória coletiva. Onde é que a Equanto quer estar neste movimento de mudança? O que comemos e consumimos terá que ser, cada vez mais, sustentável?

RA – A pandemia conseguiu evidenciar o que várias palestras não conseguiram explicar: a alimentação saudável e sem pesticidas é aquela que melhor resposta alimentar poderá dar às exigências do momento, de reforçar o sistema imunológico. Esta necessidade acelerou a consciência global dos consumidores e a sua apetência para experimentar, tornando a nossa proposta de valor ainda mais pertinente.

A Equanto, ao estar alicerçada numa política de qualidade, segurança alimentar e sustentabilidade ambiental, vem ao encontro de novos valores e exigências cada vez mais enfaticamente realçados pelos cidadãos europeus, particularmente após sucessivas e recorrentes crises alimentares e, agora, também pandémicas. Queremos promover a mudança para sistemas alimentares sustentáveis e saudáveis.

 

GC – A mesma pandemia veio validar a pertinência da oferta comercializada pela Equanto? Foi um catalisador de vendas ou nem por isso?

RA – Sem dúvida, estamos a chegar a mais consumidores. Mas temos um mercado em transição e temos de tomar o pulso à economia. Associada à palavra pandemia estará sempre a expressão crise económica. Há uma necessidade pragmática das empresas se tornarem ágeis e com soluções customizadas.

 

GC – A exportação é uma realidade para a empresa? Ou um caminho desejado a percorrer?

RA – A estratégia de internacionalização das empresas do sector agroalimentar passa por promover a inovação. Esta é uma ambição da Equanto para 2021, para a qual nos estamos a preparar e a investir, seja na estrutura, processos e metodologias, certificação internacional de garantia de sistema de qualidade e, sobretudo, no desenvolvimento de produtos inovadores e competitivos. Sentimos o peso da responsabilidade da criação de uma imagem de excelência do país em matéria de exportação.

 

GC – Falar da Equanto é falar de que faturação e SKUs comercializados?

RA – No portfólio da Equanto existem cerca de 500 produtos de mais de 15 categorias diferentes.

Ainda estamos na segunda fase de um plano de negócios de um projeto que iniciou em 2019. Já passámos pelas fases qualitativas do projeto (processo, responsabilização e desenvolvimento das equipas) e, este ano, iniciamos a fase de exigência de performance.

 

GC – O que seria um bom exercício de 2021 para a empresa?

RA – Um bom exercício de 2021 passaria pela Equanto ser reconhecida pelo contributo para a melhoria da qualidade de vida do maior número de consumidores, através de uma alimentação saudável e livre de pesticidas. Continuar a contar com colaboradores responsáveis e comprometidos e que se sintam reconhecidos e merecedores da confiança dos nossos clientes, chegando a mais mercados. A Equanto ser ainda mais reconhecida pelos seus clientes como um parceiro importante na agroindústria. Contribuir para melhorar a balança comercial do país, através das potenciais exportações da Equanto, e poder garantir à família acionista a sustentabilidade do projeto.

 

Este artigo foi publicado originalmente na edição n.º 67 da Grande Consumo.

2021 trends. outstanding innovations in the business world and education

15 tendências, 10 descontinuidades

Aprígio Guimarães

Estratégia energética para um sector do retalho 100% sustentável