15 tendências, 10 descontinuidades

2021 trends. outstanding innovations in the business world and education

Quais as forças de mudança que podem vir a transformar o contexto económico e social no novo normal? O grupo WPP tentou dar resposta a esta questão e detetou 15 tendências que vão ser potenciadas pelo novo normal. E também 10 descontinuidades, resultantes da convergência de tendências, que podem alterar, substancialmente, a estrutura de uma indústria e as regras de mercado vigentes.

 

Tendências

1) Manager Remote Work veio para ficar

Em Portugal, de março a abril de 2020, 25% da população total (quase 50% da população ativa) esteve em regime de Managed Remote Work. 

Se antes de fevereiro de 2020 o conceito teletrabalho parecia longínquo, vislumbra-se, agora, a sua implementação para lá da pandemia de Covid-19. 

Antecipam-se alterações no local de trabalho, desde a equipa à produtividade, passando pela colaboração, gestão e comunicação. Num mundo pós-pandemia, os líderes terão de aprender a liderar remotamente, em vez de centralizar.

Por outro lado, haverá uma reforma nos fluxos das cidades: a zona residencial renascerá, vislumbrando-se uma descentralização das cidades. 

 

2) O meu bairro, a minha comunidade

92% dos portugueses assume que vai continuar a preferir comprar em comércio de bairro, após o confinamento.

O confinamento e a consequente gestão do surto por regiões, levada a cabo pelas autoridades, aumentaram o sentido de pertença à zona de residência. 

O pequeno comércio tem uma oportunidade para renascer, nomeadamente, associado a cabazes de frescos e mercearias entregues em casa. 

 

3) Vamos estar juntos, mas separados

80% dos portugueses tem receio de sair à rua e ser infetado por Covid-19. 72% tem receio de ficar doente e ter que ir ao hospital.

Tem-se abordado a possibilidade de existirem mais ciclos de quarentena, ao longo dos próximos anos.

Um estudo da Universidade de Harvard aponta para que, até 2022, possa ser necessária a criação de novos momentos de isolamento social. 

Vamos viver uma dualidade: unidos no combate, nas medidas, nas partilhas e nas emoções. Afastados fisicamente, há esta aprendizagem do comportamento social que teremos de assimilar e para a qual as marcas se devem adequar. 

 

4) Em ambientes “limpos”

Top 3 de produtos em tempos de pandemia: #1 enlatados, #2 desinfetantes de mãos, #3 produtos de limpeza.

Depois da crise que se vive em termos de saúde pública, os consumidores vão estar hipersensíveis às questões da segurança, organização e higiene. 

Viver em ambientes saudáveis vai passar a ser uma das prioridades dos consumidores, convertendo-se numa oportunidade de negócio para os que incorporem essa ideia nos seus espaços físicos. 

O ambiente dos pontos de venda e espaços públicos vai ser repensado, emergindo a tendência “wellness ambiente”, que compreende o propósito da criação de condições que contribuam para a diminuição da perceção de risco e, ainda, uma sensação de conforto. 

 

5) Com novos inimigos invisíveis

A saúde mental ganha uma crescente importância e aumentará uma necessidade de resposta em conformidade. 

Pensar em novos serviços e tecnologias de apoio e aumentar o debate em torno desta questão basilar – para lá das conversas dos portugueses – será essencial: quer pelas empresas, quer por medidas adotadas pelo Governo. 

 

6) A juventude insatisfeita

São os mais novos, a Geração Z, os menos otimistas em relação ao impacto da Covid-19.

Com a depressão económica patente, não se antevê um volume de novas contratações, antes pelo contrário. Já em 2018, na crise anterior, um quinto da população mundial dos jovens (15 a 24 anos) não teve emprego. 

Por outro lado, o mercado de trabalho vai estar muito mais recetivo a pessoas com capacidade de comunicar através de novas tecnologias e de teletrabalho. Os nativos digitais poderão estar na linha da frente no que toca a competências técnicas face à revolução digital. 

 

7) Mais reflexão, mais consciência

As análises de perfis comportamentais indicam um aumento do estado “filosófico” das pessoas, o que significará maior permeabilidade à reflexão. 

Este movimento terá impacto na alteração de comportamentos estruturais do indivíduo face a temas ligados à sua existência, sustentabilidade e segurança. 

Há um efeito de aceleração na inteligência emocional das pessoas, organizações e marcas, aumentando a empatia pelos outros. 

 

8) Já não é preciso estar presente

A súbita interrupção da realidade atirou a sociedade para dentro dos seus lares, onde rapidamente percebeu que, apesar de tudo, é possível adotar uma rotina de trabalho, convívio, consumo, “dating”, ensino e atividade física à distância. 

O pressuposto é “Presence-free Living”, ou seja, não ser necessária a presença física para usufruir de experiências pessoais, culturais e de consumo. 

Do lazer à resolução de burocracias, as empresas e organizações devem acelerar as soluções à distância em conformidade. 

 

9) O nacional é que é

Mais 738% de pesquisas associadas a produtores locais.

O patriotismo vai aumentar e haverá um claro apelo ao consumo de produção interna. 

O turismo em Portugal irá ressentir-se e será, muito provavelmente, alimentado pelos próprios portugueses. 

O sentimento de pertença e o orgulho nacional tenderão a aumentar. Haverá receio associado à globalização e ao contacto com outros países.

 

10) Em “shopstreaming”

O “shopstreaming”, shopping + livestream, é uma tendência global emergente que relaciona e-commerce, com social media e entretenimento. 

O comércio eletrónico funde-se com as transmissões ao vivo e virá a ser uma nova realidade das compras online: interativas, experimentais e em tempo real. 

 

11) Integrados em experiências virtuais

Já vivíamos na chamada economia das experiências, mas, agora, passará a ser virtual e imersiva. 

Com os festivais e campeonatos de futebol cancelados e espaços como os museus encerrados, o vazio na vida das pessoas será interrompido através da tecnologia. 

No domínio virtual, as redes sociais e os e-Sports eram, até hoje, sinais da nossa presença, mas vamos assistir a um aumento das experiências virtuais em sectores como o turismo e o retalho. 

 

12) Mais digital e para todos

62% de aumento do consumo de Internet pelos portugueses, de fevereiro para março de 2020. 

A pandemia e o confinamento só vieram tornar mais iminente a necessidade da Internet como um serviço público: à semelhança da água e da luz, todas as pessoas devem ter acesso à Internet. 

O 5G, bem como lacunas no que toca ao ensino, poderão acelerar o acesso generalizado da Internet e do digital a todos, independentemente da condição financeira e da zona geográfica de residência. 

O acesso à Internet, de forma global, vai acelerar ainda mais a transformação digital da sociedade como um todo, com efeitos nas formas de trabalho, ensino, comércio e serviços. 

 

13) A expansão do e-commerce

513% de aumento das pesquisas sobre compras online. Mais 29% de downloads de apps de compras.

Em tempos de quarentena, multiplicaram-se as soluções de e-commerce e “home delivery”, com novas parcerias, novos formatos e, até, entradas de novos “players”. 

Por outro lado, esta massificação expôs as fragilidades na componente logística, o que já está a obrigar as empresas a reorganizarem a sua cadeia de distribuição ao nível das compras online. 

 

14) Com retalho “omnichannel”

De acordo com o terceiro Estudo Anual do Consumidor Digital, quase 50% dos consumidores relata ter feito compras por telefone. 

A pandemia veio aumentar a necessidade das marcas criarem experiências associadas à marca e não ao meio, uma vez que os consumidores tenderão a continuar retraídos à presença nas lojas físicas e procuram imersividade online. 

 

15) Até a reinvenção das indústrias

Assistimos a uma reinvenção das indústrias, demonstrando a capacidade de operar noutras áreas, fora do “core” de produção, de forma a responder à economia e necessidades sociais, como é o caso da construção de material de apoio à saúde. 

 

Descontinuidades

1) Os Novos Digitais

A quarentena incitou o crescimento de novos consumidores digitais, nomeadamente, no e-commerce, nas plataformas de videochamada, “chatting” e serviços de telemedicina e administrativos. 

Esta extensão recai não só em termos de volume de utilizadores, como de faixas etárias. Poderá tornar-se relevante desenvolver plataformas e ferramentas “senior friendly”, por exemplo, à semelhança dos telemóveis com minimização de passos e aumento da visibilidade dos caracteres e imagens.

 

2) Otimização de recursos

A maior consciência e estado de reflexão vão permitir aferir a otimização de recursos, tendo como “mindset” a produtividade e rentabilidade. 

Por outro lado, a recessão/depressão económica poderá incitar as empresas a equacionar todos os seus custos, otimizando, sobretudo, tudo o que for digitalizável.

 

3) Multi-emprego

O Managed Remote Work, bem como a depressão económica poderão potenciar o regresso à existência de dois ou mais empregos, mas, desta vez, em regime à distância. 

Em especial, para pessoas na área comercial, que podem passar a ser vendedores à comissão de várias marcas e produtos, bem como para a população mais jovem estimulada pelo pressuposto de empreendedorismo e flexibilização do mercado de trabalho. 

 

4) Integração inteligente

Com a pandemia, assistiu-se à multiplicação de oferta de produtores locais e à desfragmentação generalizada de informação de soluções e canais. 

Perdeu-se alguma lógica de integração de informação e visibilidade clara na cadeia disponível, o que abrirá portas a um novo capítulo de integração inteligente. 

O caminho dar-se-á na centralização de dados de forma pragmática e transparente, com plataformas agregadoras e simplificadoras na apresentação dos mesmos. 

 

5) Robots, aliados livres de vírus

Grande parte das empresas e organizações foi forçada a adaptar-se a uma nova realidade, com adoção de novas formas de entregas e mudanças drásticas na produção, para poder manter fábricas a funcionar. Também os serviços de saúde pública e privada adaptaram métodos de assistência médica. 

Assim, tanto os empresários como a população vão questionar-se e considerar de que forma os robots nos poderiam ter ajudado no presente (já que não são afetados pelo vírus) e se podem vir a ter um papel importante no período pós-Covid-19 ou perante uma eventual nova pandemia. 

 

6) N-commerce

O e-commerce será o novo normal das compras, evoluindo em volume, em oferta, em verticais de sector e em tecnologia de recurso. 

O New-Commerce será mais sofisticado, por via da inteligência artificial e da robótica, mais interativo, por via do “streaming”, mais facilitado, mais flexível e conveniente na entrega, com automatismos. 

 

7) Fused Mass Entertainment Experiences 

A indústria do entretenimento e do lazer cultural e desportivo está profundamente alavancada na presença física. No entanto, a instabilidade em torno do contacto físico será uma realidade nos próximos anos.

A aceleração da tecnologia e a limitação da quantidade física de espetadores presentes num determinado local vão mudar completamente a criação de experiências, a forma como as vivemos e o processo de acesso. 

Podemos esperar que a presença física num evento seja menos massiva e mais exclusiva, mais rara, transformando-se, consequentemente, numa experiência premium, influenciando, ainda mais, os territórios a que as marcas se associam. 

 

8) Mapeamento dos fluxos das cidades 

A Covid-19 acelerou a necessidade de mapeamento da população, dos fluxos e dos contactos interpessoais.  Apesar de não termos o contexto do regime político chinês, nem uma plataforma massificada (Wechat) que permita a visibilidade e gestão do contágio, poderão existir futuras soluções de rede na Europa que apoiem o mapeamento das cidades, dentro de uma umbrela “GDPR compliance”. 

Tecnologia Blockchain, 5G, fintechs ou simplesmente o Bluetooth do smartphone ou wearables poderão ser recursos. 

 

9) Emigração remota

Conforme estamos mais ligados em rede, a prestar múltiplos serviços em regime remoto, são amplificadas as oportunidades de emprego lá fora, sem sair do país. 

Assim, não requerendo uma emigração física, poderá surgir uma maior vulgarização de prestação de serviços e freelancing a empresas internacionais, emigrando-se apenas de forma remota. 

 

10) Os grandes horizontes 

A partir do momento em que existe uma maior flexibilidade de não presença no escritório, aumentará a oportunidade a novos horizontes geográficos, na escolha da zona habitacional, anteriormente confinada a um raio relativamente reduzido em torno da localização do escritório. 

Por outro lado, com a quarentena, ficou mais presente a qualidade de vida nas zonas rurais, com mais natureza circundante, mais espaços abertos e menos densidade populacional, fatores que contribuem para uma maior perceção de segurança. 

Asian deliver man wearing face mask in red uniform handling bag of food, fruit, vegetable give to female costumer in front of the house. Postman and express grocery delivery service during covid19.

As compras dos europeus no novo normal

Rui Assis

“Comer melhor, consumir melhor é, agora, muito mais do que o slogan de marketing”