Sustentabilidade presente e futura

João Potier, diretor geral Arrozeiras Mundiarroz
João Potier, diretor geral Arrozeiras Mundiarroz

Até meados de fevereiro passado, a agenda da discussão pública era dominada pelo tema do desenvolvimento sustentável e pela preservação do planeta, bem como pelos impactos das mudanças climáticas e, consequentemente, a forma como as economias nacionais eram afetadas pela evidente mudança de paradigma que, de modo progressivo, impactava a sociedade moderna e o seu modo de vida.

Por todo o lado, pedia-se que se acelerassem medidas contra as mudanças climáticas, de modo a gerar um ambiente mais limpo, ao mesmo tempo que se promovia a preservação da biodiversidade e a proteção do meio ambiente.

O mês de março rapidamente chegou e, com ele, a emergência da crise mundial de saúde pública relacionada com a pandemia de Covid-19, que veio retirar do foco mediático a questão da sustentabilidade. Ou talvez não, uma vez que, hoje mais do que nunca, é um assunto que deve ser encarado, incontornavelmente, como prioritário. É, precisamente, na questão da sustentabilidade que entroncam questões que irão ser, necessariamente, discutidas no pós-pandemia e a indústria arrozeira não é exceção. Até porque lida com áreas sensíveis, como são a social, a ambiental e a energética, ou não fosse o seu objeto de negócio uma das mais importantes “commodities” alimentares à escala mundial.

 

Pontos a resolver

Existem, assim, alguns pontos prementes a resolver pela indústria arrozeira que irão marcar a realidade industrial deste sector. Desde logo, a questão de rutura de stocks de produto final, relacionada com o aumento da procura e a expectável redução parcial da eficiência das operações de produção e logística das empresas. Não duvido que será necessário repensar toda a produção industrial, nomeadamente, como conseguir otimizar produções sem pôr em causa a segurança individual decorrente das necessidades de confinamento. A solução passará por uma maior flexibilização das condições de trabalho, ao promover junto dos colaboradores a assunção de comportamentos que diminuam significativamente o risco de transmissão numa previsível segunda vaga da pandemia. O que permitirá, assim, manter postos de trabalho e assegurar que a produção não diminui, respeitando, em simultâneo, as regras de confinamento necessárias para o equilíbrio entre a saúde e a produção.

A pandemia de Covid-19 teve o condão de apanhar a Europa desprevenida de stocks, uma vez que a campanha orizícola europeia decorre de finais de abril até novembro e há uma forte dependência de importações. Portugal importa cerca de 60% do arroz que é consumido e a época de maio a setembro coincide, precisamente, com o pico das importações de matérias-primas provenientes dos países produtores do hemisfério sul. O abastecimento regular está, assim, necessariamente condicionado pela limitação das exportações praticada pelos países do sudeste asiático e os preços começam a subir para números inimagináveis há seis meses. A atual previsão é de que, até final do ano, os preços ainda venham a corrigir em alta com muita frequência.

 

Necessidade de emergência de uma cultura sustentável

O complexo quadro acima descrito aponta, uma vez mais, para a necessidade da emergência de uma cultura sustentável, que permita, acima de tudo, conciliar o respeito pelo meio ambiente com a prosperidade económica e a empregabilidade.

Não duvido que vamos ter que promover culturas sustentáveis em termos de variedades mais produtivas e menos exigentes no que aos recursos hídricos e de aplicação de produtos fitofarmacêuticos diz respeito. Promover o seu uso é uma responsabilidade de todos, já que a erosão dos solos é evidente e a sua rentabilidade menor face a outros períodos.

Mas a sustentabilidade também é extensível ao capítulo humano, uma vez que, fruto da epidemia, quantas mais horas se trabalhar com menos pessoas, com a fatura energética vem, uma vez mais, um pesado “recibo” ambiental. A sustentabilidade emerge, assim, de novo como pedra de toque para o futuro, com a produção industrial a ter que ser equilibrada com o necessário aumento do uso de energia, feito para harmonizar uma gestão sustentável dos recursos humanos e da produção.

Quanto tempo será este período de exceção ninguém sabe. Resta-nos espera que seja breve. O mais possível.

João Potier, diretor geral Arrozeiras Mundiarroz
João Potier
Diretor Geral Arrozeiras Mundiarroz

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