O equívoco empreendedor, na retração à evolução da humanidade

Mara Almeida, CEO da Ename
Mara Almeida, CEO da Ename

Quando olhamos para modelos de empreendedorismo, tais como Steve Jobs, Bill Gates, Elon Musk ou os Rockefeller, podemos ver que foram pessoas que impulsionaram a inovação de forma colossal e, como consequência, foram criados negócios próprios em torno desses contextos.

O cenário que conhecemos dificilmente diverge do indivíduo que trabalhava com escassos recursos numa cave ou garagem que, após uma ideia iluminada (na qual ninguém acredita, recordemos), percorre o caminho para a colocar em prática e empreende um negócio que se vem a revelar um incontestável sucesso. 

Total mérito ao empresário sábio e revolucionário que conquistou o reconhecimento e abonação do mundo.

No entanto, grande parte das pessoas não são empresários, CEO ou aqueles autorizados a tomar as grandes decisões nas organizações, mas pessoas que trabalham para entidades e equipas de liderança. 

Destas, inúmeras aspiram inovar, criar valor, ter impacto no mundo e ser parte integrante da sua transformação. 

Possuem competências e talentos inestimáveis que contribuem para o crescimento da atividade, mas passam despercebidas aos olhos de quem, no topo, aspira brilhar e engrandecer as suas virtudes e habilidades de inovação.

Um número representativo de organizações possui prestigiosos talentos, no entanto, escondidos nos bunkers ou em cargos menos reconhecidos da empresa. E, frequentemente, os modelos de comunicação praticados nas empresas vedam a possibilidade destes recursos valiosos brotarem.

 

Desafios

Os grandes desafios da humanidade não são, nem serão, resolvidos “per si” pelo modelo de empresário/empreendedor, que conhecemos e estamos habituados a atribuir todo o mérito e, até, a idolatrar. 

Vivemos numa era em que a maioria das sociedades são indubitavelmente muito desenvolvidas. Fazer uma chamada telefónica através de um dispositivo portátil, dispor de um mundo infindável de conhecimentos através de um mero clique num qualquer dispositivo eletrónico ligado em rede, existir a possibilidade de fazer uma ressonância magnética ou, até, a simples aquisição de um perfume criteriosamente elaborado são evidências da evolução tecnológica de que hoje beneficiamos.

Contrariamente ao que julgamos, este progresso é maioritariamente resultado da criatividade de colaboradores empreendedores e não de empresários.

Existem elementos excecionais nas organizações cujos talentos são totalmente desconhecidos, que possivelmente têm as respostas a muitos dos obstáculos que enfrentamos.

Pessoas que poderiam contribuir ativamente, muitas vezes de forma vital, para a mudança e progresso da atividade, mas que, infelizmente, trabalham na sombra de quem os lidera, nunca chegando a tomar consciência do seu próprio valor e potencial como iminentes criadores de soluções inovadoras.

 

Liderança de cocriação

Praticar uma liderança impeditiva de cocriação é renunciarmos a resultados mais favoráveis, inibirmos crescimento exponencial, limitarmos uma imagem mais progressista e revolucionária da organização; é, também, impedirmos pessoas talentosas de se realizarem pessoal e profissionalmente, mantendo suas competências afogadas num contexto de orientações, muitas vezes, espúrias.

Mais grave ainda é que, se insistirmos no mito de que apenas o empresário, com o seu restrito núcleo de inovação (quando aplicável) é quem inova, estaremos a impedir a sociedade de uma evolução mais célere, veloz e dinâmica.

Temos enormes desafios pela frente e não serão, certamente, só os empresários que arriscam empreender a solução de tais adversidades. 

Podemos e devemos espoletar um movimento organizacional inclusivo e participativo, de forma a fomentar o pensamento criativo e estratégico que cada elemento possui, mas que quase sempre se acanha de revelar. 

Ideias, intuição e criatividade atabafadas… uma perda irrefutável para a economia.

Mara Almeida, CEO da Ename
Mara Almeida
CEO da Ename

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