O ano M

2019 é ano de eleições que podem – e devem? – mudar o figurino governativo como o atualmente o vemos, e vivemos, em Portugal. Em ano de verdadeiro “suspense” político, há uma certeza: 2019 é o ano M. Eme de Mercadona, a empresa liderada por Juan Roig e que escolheu Portugal para aquilo que acredito ser um laboratório para uma eventual abordagem mais ambiciosa a mercados de maior escala – na América Latina? – falhado que foi o “assalto” a outro mercado que surge nas imediações: Itália.

Assim, sem nada para mostrar de concreto, além de uma grande azáfama junto da maioria dos fornecedores, certo é que a Mercadona já obrigou a um conjunto de situações que visavam antecipar, ou minimizar, a sua entrada mais lá para o final de 2019. Ainda sem lojas em funcionamento, a Mercadona já demonstrou, por uma série de vezes, como a comunicação é fulcral para uma estratégia que se quer ser de sucesso. Como homem da comunicação que sou, e serei, não posso deixar de enaltecer a inteligência com que esta enorme máquina financeira começou a trabalhar o mercado nacional sem ter, ainda, uma única loja aberta ou algo mais de concreto para dar conhecer. O plano teórico a funcionar em pleno – São Tomé deve estar furioso – o que demonstra, por um lado, respeito pelo consumidor, enquanto, por outro, permite criar uma verdadeira onda de simpatia, aliada a um misto de curiosidade, por algo que não se pôde verdadeiramente testemunhar.

Não acredito em fórmulas vencedoras, o sucesso antes do trabalho apenas surge no dicionário, e aquele trinómio que se antecipa estar na linha da frente, com ambiciosos planos de expansão, para tentar minimizar o impacto da entrada da Mercadona, já há muito que tem a lição devidamente estudada. Com novas aberturas, reforço do compromisso e das obrigações contratuais junto dos fornecedores, melhorias progressivas nas lojas e, necessariamente, no atendimento ao cliente.

Afinal, sem ainda ter chegado cá, o empoderamento que esta mera possibilidade trouxe ao “chefe” português foi, aparentemente, suficiente para trazer muitas mudanças no retalho interno. Mais ou menos discretas, mais ou menos efetivas, mas sempre com vista a fidelizar quem julgo não poder ser fidelizado.

Se vai ser melhor ou pior? Não sei. Mas pelo menos vai poder ser diferente, já que vem trazer pressão adicional a um mercado onde, já há muito tempo, se percebeu que há máquinas demasiado pesadas para se alimentar e onde o vício das promoções, em surdina, lá bem longe do consumidor, já começou a dar lugar a diversos reptos para a construção conjunta de valor, seja com produtos diferenciadores, novos, sem rótulo, preço definido ou prateleira atribuída. Afinal, o “chefe” português nunca pôde tanto e, pelo menos até à próxima bolha, que pode estar mais iminente do que se pensa, vai poder ainda mais. Fruto da chegada da Mercadona e não só. Afinal, ninguém gosta de sentir que perdeu o “campeonato” a jogar em casa. E, como estamos no início do ano, há ainda tempo para atacar o “título”. Vai ser um jogo interessante de se ver, sobretudo num mercado que percebeu que “martelar” o preço já bateu no fundo. Até quando? É isso que resta perceber.

Eça de Queirós, o mandarim e a Covid-19
Bruno Farias
Diretor Grande Consumo

Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca

Seis pinceladas na pintura de 2019

A merceria da minha rua