Inovação: uma estória em balão e em 80 dias! (segundo Phileas Fogg, Passepartout e Samuel Fergusson)

Armando Mateus, Chief Experience Office Touchpoint Consulting
Armando Mateus, Chief Experience Office da Touchpoint Consulting

Falar de inovação é falar de uma dicotomia entre velocidade e descoberta, como se Júlio Verne tivesse criado uma nova aventura, onde a importância de dar a “Volta ao Mundo em 80 dias” se junta à descoberta de novos mundos e novos reinos numa engenhosa viagem de “Cinco Semanas em Balão”.

A história do grande consumo encontra-se marcada por um conjunto de verdadeiras inovações e por inovações que, se calhar, não o são realmente, umas por acaso, outras fruto de muita investigação, muito trabalho e grandes investimentos.

Quando Samuel Fergusson partiu rumo a Zanzibar, num balão de ar quente, tinha como objetivo atravessar o continente africano numa linha paralela ao Equador, de forma a descobrir a nascente do grande rio Nilo e a região central de África, na altura ainda uma incógnita nas cartas geográficas de África. Seria, na linguagem atual, um prodígio da imaginação, uma inovação disruptiva que se guiava por trazer novos mundos ao mundo, na senda das grandes descobertas.

A utilização do Victoria (um balão de hidrogénio) era, desde logo, uma inovação, a utilização de um tal engenho no início do século XIX, a época dourada das grandes explorações do continente africano. Tal como qualquer empreendedor, ou cientista moderno, Fergusson reuniu-se dos melhores, o seu fiel criado Joe Wilson e Dick Kennedy, um intrépido caçador escocês. O grande aventureiro sabia que, apenas com uma grande equipa, iria conseguir enfrentar as dificuldades e ser bem-sucedido.

 

Ser disruptivo

Ser disruptivo significa ir mais longe, significa trazer ao mundo uma nova visão, um novo produto, um novo serviço, uma nova forma de fazer as coisas. E isso significa romper com o passado, substituir um produto ou serviço por algo novo inovador. São poucos os exemplos de inovação disruptiva, sendo a Netflix e os serviços de streaming os mais fáceis de recordar, tendo tornado obsoletos os velhinhos clubes de vídeos, onde alguns de nós (dependendo da idade…) iam, semanalmente, buscar as últimas novidades do cinema em VHS para ver, durante 48 horas, e depois devolver. 48 horas de muita fita para a frente e para trás no leitor de VHS, muitas sessões de cinema em casa, com os amigos.

O que muitos não sabem é que a Netflix começou como uma empresa online de aluguer de DVDs, enviados por correio. Hoje, falamos de streaming, mas a disrupção estava na essência da empresa: filmes online sem sair de casa.

Para ser disruptivo, é fundamental que a superioridade do produto ou serviço seja reconhecida pelos consumidores, que a adesão seja massiva e que represente uma mudança no seu comportamento. Todos nós conhecemos “grandes inovações” que morreram antes de nascer… Porquê? Porque acontecem antes do seu tempo, porque são inovações de processos produtivos e, acima de tudo, porque não foram reconhecidas pelo consumidor.

Qual foi a primeira empresa a lançar um computador portátil? Qual foi o primeiro retalhista, em Portugal, a lançar uma loja online? Qual foi a primeira marca a lançar um iogurte grego?

É importante ser o primeiro, o primeiro a ser reconhecido pelo consumidor, o primeiro a sentir a adesão massiva, o primeiro a conquistar os corações dos consumidores. Ser o primeiro a chegar ao mercado é apenas um passo.

 

Reconhecimento necessário

A viagem de “5 Semanas em Balão” de Fergusson contribuiu para um novo mapa do continente africano, mas, para isso, não bastou fazer a viagem. Foi fundamental o reconhecimento pelos “seus consumidores”, a acreditação pelos soldados franceses estacionados no Senegal e que redigiram o relatório que figura nos arquivos da Sociedade Geográfica de Londres.

A necessidade de velocidade na criação da inovação não pode ser descurada e, por isso, é sempre fundamental conseguir melhorar, nem que seja incrementalmente. Quando Phileas Fogg desembarcou em Londres, acreditava que não tinha completado a “Volta ao Mundo em 80 dias”, acreditava que tinha desembarcado no sábado à noite, 21 de dezembro, quando, na verdade, era sexta-feira, 20 de dezembro, apenas 79 dias após sua partida. Um erro “simpático” que, nas palavras do seu leal Passepartout, poderia ambicionar ter feito a viagem à volta ao mundo em apenas setenta e oito dias.

 

Inovação

A inovação não disruptiva faz parte do dia-a-dia do mundo do retalho e do grande consumo, representando a maioria das inovações reportadas nos diversos relatórios de avaliação da inovação. Será que um novo sabor é uma inovação? E uma nova embalagem com o mesmo produto? Ou uma nova receita?

A inovação incremental existe para aumentar o ciclo de vida de um produto ou serviço. Ou seja, é feita em cima de algo já existente, é uma melhoria que tem como objetivo reavivar o interesse ou prolongar as vendas, uma “segunda vida”.

Mas não se pense que esta inovação acontece sempre de forma planeada! A sorte dá muito trabalho, mas acontece. Um dos melhores exemplos é o famoso sabonete flutuante Ivory, da Procter & Gamble. De acordo com os relatos não corroborados, a capacidade de flutuar foi um erro que ocorreu na fábrica e foi escondida por um funcionário com receio de ser descoberto, tudo isto num mundo fabril do século XIX, onde a inovação estava reservada a poucos. A versão oficial do livro “Rising Tide” conta uma estória ligeiramente diferente, atribuindo a descoberta ao filho de um dos fundadores, o qual se inspirou na descoberta de um seu colega.

 

Razão de ser

Seja por erro, ou de forma planeada, seja por foco na velocidade, ou na pureza da descoberta inovadora e disruptiva, a inovação é a verdadeira razão de ser do mundo do grande consumo. Tal como nos contos de Júlio Verne, a imaginação faz-nos superar os obstáculos, avançar para além do conhecido e ir mais longe. 

Imaginem o que seria se as estórias de Júlio Verne tivessem sido, por si, realmente vividas e se não fossem apenas fruto da sua imaginação…

Armando Mateus, Chief Experience Officer da TouchPoint Consulting International
Armando Mateus
Chief Experience Officer da TouchPoint Consulting

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