Impacto do Brexit na supply chain

Flávio Guerreiro, Country Manager da LPR Portugal
Flávio Guerreiro, Country Manager da LPR Portugal

Existem ainda muitas dúvidas e incertezas quanto ao efetivo impacto do Brexit em toda a “supply chain”, seja no imediato ou a médio-longo prazo. No entanto, os receios iniciais de constrangimentos, aumento de burocracia, quebras de eficiência e aumento de custos são, agora, reais.

Outrora inexistente, num mercado “aberto” e global, a adição de direitos alfandegários e tarifas, entre outros, está e irá afetar toda a cadeia de distribuição, nomeadamente, na forma como a indústria e os fornecedores se irão relacionar, com especial impacto nos pequenos e médios fornecedores, assim como em cadeias mais extensas. Tal levará à necessidade de um maior conhecimento e domínio das novas “regras” e modus operandus e consequente adaptação a esta nova realidade, inclusivamente, do ponto de vista das propostas comerciais e/ou contratos.

 

Cenário de incerteza

Típico de uma situação de incerteza e desconhecimento, muitas empresas irão acabar, forçosamente, por incrementar os seus níveis de stock, na expectativa de não existirem disrupções na cadeia de abastecimento, nomeadamente, ao nível da rutura de stocks, com impacto direto no “working capital” e em todos os custos diretos e indiretos associados, como é o caso do espaço de armazenamento, prazos de validade excedidos, entre outros. Numa cadeia de abastecimento atual, onde o conceito de “just in time” tem um peso relevante, o desafio será, claramente, adicional, sobretudo, ao nível de produtos como pescado, frescos, frutas e legumes, pois, pelo menos nesta fase inicial, os “lead-times” irão aumentar. Este fenómeno poderá, inclusivamente, levar, pelo menos pontualmente, à escassez de alguns produtos nas prateleiras, ao nível do retalho.

 

Custos aumentaram

Os custos de distribuição também aumentaram, sobretudo ao nível do transporte, pois a capacidade e disponibilidade não é especialmente elástica, tendo sido, simultaneamente, afetada pela situação da Covid-19. Ainda no âmbito da distribuição, conforme referido, já se verificam “lead-times” mais extensos, inclusivamente, para além do esperado e/ou comunicado aos clientes, especialmente devido à componente alfandegária, quer seja pelo processamento de novos documentos/declarações, quer pelo aumento da carga administrativa ou pela escassez de recursos ou desconhecimento (inicial) dos processos, que levam a que exista, claramente, uma quebra de eficiência face ao período pré-Brexit.  

 

Tendência

Uma outra tendência que está a provocar constrangimentos são as cargas consolidadas, claramente a aumentar, o que significa, tradicionalmente, multifornecedores num único contentor ou carga, o que leva a um maior risco administrativo e financeiro, pois caso parte da carga não esteja devidamente registada, pode provocar atrasos e/ou reter o transporte na fronteira. Este tipo de situações é particularmente pertinente ao nível dos Incoterms, pois ainda subsistem muitas dúvidas – independentemente da modalidade selecionada – relativamente a quem compete o registo documental. Nesse sentido, em alguns casos, o estabelecimento de parcerias com agentes locais pode ser uma solução para mitigar os constrangimentos documentais e de tempo, pois os mesmos conseguem assegurar o agilizar da parte administrativa e burocrática.

Apesar de muitas empresas referirem que estão a tentar não incrementar os preços, fruto de todas as entropias e custos mencionados anteriormente, nalguns casos, o consumidor final poderá acabar por verificar o aumento do preço de alguns produtos.

Existem, seguramente, constrangimentos sentidos pela maior parte das empresas nesta fase inicial, no entanto, tal não é e não deverá ser inibidor de um normal desenrolar dos negócios, apesar das adaptações necessárias a efetuar, com vista à manutenção da atividade comercial.

Flávio Guerreiro, Country Manager da LPR Portugal
Flávio Guerreiro
Country Manager da LPR Portugal

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