Dinâmica de construção

Num período do ano compreensivelmente a meio gás, ainda assim com mais “combustível” do que quando comparado com um passado não muito recente, e que faz parte do imaginário coletivo, no “querido mês de agosto”, damos conta, em mais uma edição da Grande Consumo, de alguns movimentos interessantes associados ao mercado interno.

Contrastando com aquela ideia bafienta de que o exportado é sempre superior ao nacional, certo é que, no ano em que assinala 100 anos enquanto marca (quantas poderão dar-se a esse privilégio?), a Danone reforça a importância do mercado nacional, onde se encontra presente há 30 anos, para a sua operação. Não tanto pelos volumes transacionados num dos maiores mercados de consumo alimentar em Portugal (o mercado doméstico vale 0,5% do negócio global da Danone, cujas marcas chegam a 79% dos lares portugueses), mas pelo facto de ser um dos países com maior nível de inovação.

Inovação que se estende também ao universo das cervejas, onde a Vadia anuncia uma novidade sem álcool e com sabor a fruta, a nova Vadia 100, demonstrando, assim, que também no universo das artesanais é possível gerar valor acrescentado e, acima de tudo, diferenciação. Um produto que terá, naturalmente, em condições normais, sempre um PVP mais elevado do que uma proposta “mainstream”, mas, num contexto onde a cerveja é um dos produtos mais promocionados, a diferenciação tem sido um dos predicados para ajudar a “combater” esse facto, assim como a ainda muito significativa sazonalidade do consumo. Num mercado dominado pelas duas maiores cervejeiras nacionais, a questão da diferenciação apresenta-se de particular importância, sobretudo atendendo à sofisticação progressiva do consumo, ainda que longe de haver uma “verdadeira” cultura cervejeira em Portugal. Um caminho, como qualquer outro, mas a presença de um operador como a Font Salem em Portugal é ilustrativa disso mesmo. Não que a aquisição da fábrica de Santarém à Drinkin tenha tido como foco principal o abastecimento do mercado doméstico, certo é que a sua presença já trouxe 100 milhões de euros de investimento para o país, assim como permitiu diversificar a oferta de cerveja em marca própria. Será interessante verificar se, com a chegada da Mercadona a Portugal, que tem na Font Salem um dos seus fornecedores, e o anunciado plano de expansão, a diversificação no seio das marcas próprias de cerveja irá ganhar um novo fôlego, em termos de novas referências ou propostas premium, uma vez que, sejam exclusivas ou próprias, e tal como outras marcas em distintos universos, estas são consideradas marcas de pleno direito.

Assim o identifica o consumidor, na primeira abordagem ao mercado feita pela multidados.com – the research agency, em parceria com a Grande Consumo, onde uma marca como a Karlsquel (Aldi), por exemplo, surge em quarto lugar nas preferências, logo atrás de Super Bock, Sagres e Heineken. Num ranking onde a Argos (Lidl) é igualmente citada, a presença das MDD no nosso universo consumista é incontornável cumprindo, em muitos casos, mais do que a sua função de potenciar o acesso à categoria.

Uma realidade incontornável do nosso país, o mesmo de onde a Coviran partiu para a sua expansão em África, no rescaldo de um primeiro semestre muito acima das expectativas dos responsáveis da cooperativa granadina. E se se pode colocar em causa a rentabilidade e eficácia da operação a longo termo, certo é que, da próxima vez que for à ilha do Sal, não vou perder a oportunidade de beber um café acompanhado de um belo pastel de nata.

Eça de Queirós, o mandarim e a Covid-19
Bruno Farias
Diretor Grande Consumo

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Tempos de grande dinamismo e inovação